O preço do petróleo não pára de crescer, a crise mundial espalha-se pelo mundo como se fosse um cancro incurável, o desemprego é um flagelo na Europa e nos Estados Unidos da América, o FMI anda devagarinho e com pezinhos de lã a invadir um a um os países do Sul da Comunidade Europeia, a comida começa a faltar, as multidões assaltam os supermercados para sacar o último pacote de açúcar racionado, os orçamentos de estado de muitos países vão roubando o futuro e a esperança das futuras gerações, o Japão é hoje uma nação de velhos abandonados e de jovens mimados e egoístas… E, no entanto, há cinco anos atrás, tudo corria bem e nada parecia prever o futuro terrível que se aproximava!
Nada? Bom… Não é bem assim. Hoje, o cidadão comum sabe que todos os sinais de alarme estavam bem presentes, mas ninguém, desde o corretor ao banqueiro, desde o político ao próprio cidadão anónimo, quis saber. É verdade que, de vez em quando, tínhamos um rebate de consciência: como é que eu, que só ganho 900 euros, posso ter três cartões de crédito na mão, um empréstimo para um carro, os filhos na escola privada e um empréstimo para uma casa? Mas como a vida era bela e o dinheiro sabe sempre bem, sacudíamos estes maus agoiros das nossas cabeças e continuávamos a esbanjar, a esbanjar, a esbanjar… Até que um dia a bolha estourou e entrámos no inferno.
Como foi que tudo começou? É precisamente essa questão que o realizador David Sington quis responder. E, por muito estranho que isso pareça, tudo começou com uma coisa: casas. Sobretudo casas ligadas aos subúrbios (ver imagem em baixo). Ora, esta invenção americana – que consiste em criar do zero uma aldeia nova afastada das cidades mais antigas – exigiu um enorme consumo de energia e de dinheiro e fez disparar os preços das habitações. Ter um lar, doce lar, graças ao crédito e prestações dos bancos, parecia estar ao alcance de todos os bolsos, o que fez com que o real valor de uma habitação estivesse bastante inflacionado. Como, infelizmente, o mundo de hoje é como um exército de peças de dominó, assim que a primeira peça caiu, tudo foi atrás.
O documentário é, no mínimo, original, e mereceu a atenção do festival de Sundance, um dos mais famosos festivais de cinema mundiais, desde há uns bons anos para cá. A realização do filme foi complexa, depois de horas e horas de entrevistas, já chegar ao título terá sido o mais simples do processo. O realizador britânico inspirou-se nas declarações de Alan Greenspan, ex-presidente da Reserva Federal norte-americana, que admitiu uma "falha" no Congresso ao ter acreditado no poder de auto-correcção dos mercados. Sington teve também a ideia original de intercalar desenhos animados de propaganda anti-comunista (imagem no início do texto) com os testemunhos de banqueiros, corretores, vendedores de casas e vidas pessoais de americanos que se deixaram levar pelo sonho de que todos nós podemos ser ricos como o vizinho do lado.
Esperemos que este documentário chegue às nossas salas. Pode muito bem servir de aviso aos Portugueses, que ainda não acordaram lá muito bem para a crise que os espera e que acham que as futuras gerações deverão pagar a factura dos erros dos outros. Ou seja, dos nossos erros. E os avisos à navegação são sempre bem-vindos.
The Flaw ( A Falha, em Inglês) Trailer sem legendas
Imagens retiradas de:
2 comentários:
O Mundo virou uma coutada para os ricalhonços: quanto mais pessoas empobrecem, mais eles enriquecem...
E não foi sempre assim????
Mas hoje já existem Bill Gates, o que quer dizer que estamos melhor do que nos séculos passados...
Sandra Costa
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