O Meu Primeiro Beijo E Outros Traumas, de Adam Bagdasarian
Era agora, era agora!!! Tinha chegado a hora H, o momento certo, o instante mágico que iria mudar a sua vida: o seu primeiro beijo a sério, a sério mesmo!, como se vê nos filmes, como os adultos fazem! E Will já tinha o plano bem estudado:
Tudo o que tinha que fazer era pôr os braços à volta da Maggie, segurar a cara dela entre as mãos, pressionar os meus lábios contra os dela com tanta força quanta tivesse e movimentar a minha cabeça de um lado para o outro até que os joelhos dela fraquejassem ou ela tivesse um desmaio, ou levantasse uma das pernas do chão. Não estava certo de qual era o princípio científico que explicava este levantar da perna, mas tinha visto filmes suficientes para saber que de facto acontecia e que ia acontecer à Maggie.
Pois, pois. A teoria é sempre bonita, não é? Parece tudo tão simples mas...
Depois de dez ou quinze segundos de beijar e de fazer pequenos ruídos de êxtase, reparei que uma das minhas narinas estava pressionada de encontro à bochecha dela e a outra contra o nariz. Isto significava que eu não conseguia respirar. Tentei encontrar maneira de a beijar e respirar ao mesmo tempo, mas para onde quer que virasse a cabeça, o nariz dela estava sempre lá.
E tentou, tentou, tentou... Um fracasso absoluto. O seu primeiro beijo (a descrição é de nos levar às lágrimas, de tanto nos rirmos), tão meticulosamente planeado, quase como se fosse um filme romântico, capaz de arrebatar de uma penada 10 Óscares, incluindo o dos efeitos especiais, tinha sido um embaraçoso fiasco.
Quando é que deixamos de ser crianças e passamos a ser adolescentes? Quando descobrimos que o Pai Natal não existe? Hmmm, muito cedo. Quando os pais dizem “não” ao cachorrinho que vemos na montra e queremos levar para casa? Bom, isso pode acontecer em qualquer altura da nossa infância. Quando começamos a olhar para a/o nossa/o colega e descobrimos que há ali qualquer coisa mais? Um pouco de barbicha? Um eyeliner? Para Will, a sua primeira “revelação divina” começou com uma máquina de pastilhas. Lá foi o pai todo contente comprar uma máquina de pastilhas. Sim, senhora, uma máquina de pastilhas só para ele!! E o raio da máquina acabou por originar a sua primeira depressão e a descoberta de que já não era uma criança, e que já não existiam tapetes voadores, naves espaciais e “vou buscar a Lua para oferecer à minha mãe”. A sua primeira depressão, a sua primeira crise existencial, e tudo por causa de uma máquina de pastilhas!
Não vale a pena contar mais, este livro é de chorar a rir. Todos nós nos reconhecemos nesta narrativa hilariante, e todas estas peripécias são contadas por um adulto que, olhando para trás, para a sua infância e adolescência, descobre esse grande espectáculo fenomenal e ao mesmo tempo ridículo que é o crescimento interior.
Se querem umas boas horas de gargalhadas garantidas, leiam esta história. Porque, vistas bem as coisas, todos nós já fomos, somos e seremos sempre ridículos.
E ainda bem. Como dizia alguém, não leves a vida muito a sério porque, de qualquer forma, não vais sair vivo dela.
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