sexta-feira, janeiro 15, 2010

Haiti: Uma Tragédia Há Muito Anunciada

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Haiti e República Dominicana: um contraste chocante (fotografia da revista National Geographic)

Logo no início deste ano lectivo, a equipa da biblioteca tinha proposto aos nossos leitores a espreitadela de uma obra de divulgação científica: Colapso, de Jared Diamond (poderão (re)lê-lo neste link: http://bibliotecaportaberta.blogspot.com/2009/09/vinte-anos-para-salvar-o-planeta.html). Parece coincidência, mas não é: o capítulo 11 (Uma Ilha, Duas Nações, Duas Histórias) é exclusivamente dedicado ao chocante contraste entre a República Dominicana e o Haiti. Ambas são, de facto, nações muito pobres. Porém, enquanto que o lado direito soube ter visão e apostar no futuro (República Dominicana), o lado esquerdo desbaratou o melhor que tinha, ou seja, o seu Ecossistema (Haiti) e agora vive na total e absoluta miséria. E tinha sido várias vezes avisado de que caminhava para a destruição.

Por mais que isto nos desagrade, é a um ditador com visão que temos que agradecer: quando Joaquín Balaguer (oficialmente considerado “Presidente” desta metade da ilha) tomou posse do governo da República Dominicana no ano de 1966, o seu país estava a caminhar tal e qual para a destruição que hoje assistimos no Haiti. Este homem, horrorizado com o poder total das indústrias madeireiras, que estavam literalmente a desertificar e a emprobrecer a sua pátria, considerou crime público matar uma árvore. O seu extremismo foi tal que retirou a gestão das florestas ao Ministério da Agricultura e entregou a sua guarda e preservação aos militares. Estes foram práticos e funcionais: criaram um plano de preservação, que consistia em fazer sobrevoações diárias e atirar para matar em qualquer homem ou mulher que estivesse a fazer “coceguinhas” com o machado a algo semelhante a um arbusto. Esta guerra entre as indústrias da madeira e as tropas culminou num massacre em 1967: ao detectarem um campo clandestino de abate de árvores, as forças do exército meteram-se a caminho e mataram a sangue frio dezenas de madeireiros. O aviso estava dado: tocam numa árvore, pagam com a vida.

E parece que resultou: a República Dominicana continua a ser ainda hoje uma nação bastante pobre, mas devido à “bio-muralha” das suas florestas, as catástrofes naturais (bastante comuns naquela área do planeta, esta foi apenas mais uma) só vitimam umas escassas dezenas. Do outro lado, são às dezenas ou centenas de milhar. Pensando bem, a Mãe Natureza não é nada estúpida: os gigantescos e imponentes jardins daquela ilha não foram criados para enfeitar as fotografias da revista National Geographic. Foram criados precisamente para atenuar o impacto das mais que comuns devastações climáticas nesta zona do planeta. E sem essa barreira a terra ficou nua, morta e indefesa.

Ao destruirem o seu ecossistema, os Haitianos destruíram o seu futuro. E, como sempre, são os inocentes que pagam caro a factura: esta gente, que agora jaz nos escombros de uma capital pulverizada pelo impacto de três bombas atómicas, não teve nada a ver com a estupidez dos seus pais e avós. Resta-nos agora apoiá-los, alimentá-los, curar os vivos e enterrar os mortos, limpar as cidades e convencê-los a replantar as áreas das suas extintas florestas.

Vejam este video da Sic Notícias, que relata brevemente muito do que dissemos acima, e que foi emitido precisamente ontem:

Haiti – Desflorestação, Pobreza e Instabilidate Política

1 comentário:

Paulo Almeida disse...

Muito interessante essa comparação entre as duas nações.É uma lição que o mundo precisa aprender.