Os cientistas não estão nada optimistas: se daqui a duas décadas (há quem diga que temos dez anos…) não conseguirmos reduzir drasticamente a poluição no planeta, diminuirmos o aquecimento global e arranjarmos energias alternativas e viáveis que substituam, de uma vez por todas, o petróleo, bem podemos desistir da ideia de sermos pais. Afinal, trazer a este mundo um ser inocente que estará condenado à fome e à sede é um acto de egoísmo e não de amor.
De facto, os presságios não são nada positivos: quando chegarmos ao ano de 2025, quase todos os recursos naturais da terra estarão esgotados; quando chegarmos ao ano de 2050, a população humana terá duplicado o seu tamanho (hoje, somos sete bilhões, em 2050 seremos 14 bilhões); pela primeira vez na História da Humanidade, mais de metade dos seres humanos mora em grandes metrópoles, abandonando cada vez mais o campo e agricultura; mais de 90% das espécies marítimas já desapareceram dos oceanos, e hoje precisamos de percorrer milhares de quilómetros para encontramos peixe para comercializar; 90% dos rios da China estão irremediavelmente poluídos e as novas gerações de chineses que moram em gigantescas cidades como Pequim, nunca viram a luz do sol.
Podíamos continuar aqui a desfilar o nosso rosário de tragédias. Porém, deixamos aqui duas sugestões de leitura e visionamento: o documentário Home – O Mundo É A Nossa Casa, realizado por Yaan Arthus-Bertrand, já se encontra disponível na nossa biblioteca, e é um verdadeiro murro no estômago. O início deste filme é calmo, sossegado, contemplativo, pretende imitar o ritmo sereno do planeta. Porém, quando chegamos a essa praga chamada petróleo, todo o filme resvala para um inevitável fim trágico. O Homo Sapiens, isto é, o “o ser sábio”, parece ter enlouquecido e caminha para um processo de destruição e auto-destruição. E os números são verdadeiramente assustadores: enquanto que a Humanidade não pára de crescer (a título de exemplo, em apenas 40 anos, a pequenina aldeia de pescadores chamada Xangai é hoje um monstro de 16 milhões de habitantes), todo o planeta é vítima da gula e do instinto predatório e egoísta da nossa espécie. Há esperança? Há. No fim do documentário, há sugestões concretas e optimistas para revertermos o nosso comportamento. Porém, é caso para dizermos que, terminado o visionamento deste filme, ainda levaremos umas boas horas, ansiosos e preocupados.
Já a obra Colapso, do filósofo e Geógrafo Jared Diamond (já não era sem tempo, uma tradução na nossa língua!), pretende mostrar que, ao longo da História da Humanidade, existiram sempre grandes civilizações que se auto-destruíram, enquanto que outras foram inteligentes o suficiente para preverem o seu fim, o que as ajudou a criar estratégias de adaptação que lhes foram úteis para a sua futura sobrevivência.
E todas elas tiveram um ponto em comum: abusaram até à exaustão dos seus recursos naturais. Os exemplos são gritantes: o povo de Rapanui (os habitantes da famosa Ilha da Páscoa) sugou literalmente toda a vegetação da sua ilha, por causa da vaidade e da ostentação; a civilização Viking não só destruiu todos os ecossistemas onde esteve, como não soube parar a tempo, acabando, assim, por desaparecer da face da terra; o lindíssimo reino de Ankhor, no Cambodja, “matou” a terra, de tantas e tantas colheitas, que serviam para alimentar as bocas de milhões de habitantes; quanto aos Maias, o seu destino foi a morte, por terem esgotado todos os recursos naturais à sua volta.
Não contente com estes exemplos do passado, Jared Diamond prevê quais serão as “grandes civilizações” que, daqui a uns anos, poderão prosperar e quais serão aquelas que ficarão reduzidas a “cidades-fantasma”. Uma delas será a nação do Dubai: pode ser uma civilização próspera e visionária, mas não tem água, não tem agricultura, não aposta nos painéis solares… Não tem nada, a não ser o petróleo. E quando este terminar, será o fim desta civilização. Jared Diamond aproveita também para falar das razões que originaram o genocídio em Ruanda; demonstra as consequências trágicas dos pesticidas e da agricultura industrializada em muitas partes do planeta (um dos países mencionados é a Austrália); compara a estupidez do povo do Haiti, por ter espatifado as suas florestas, com o espírito visionário da República Dominicana, por ter sabido preservar o seu ecossistema. Finalmente, deixa-nos dois recados muito importantes: em primeiro lugar, são as populações que têm que mudar a mentalidade dos políticos, nunca o contrário. Estes não farão nada, enquanto o povo não se importar. Em segundo lugar, as civilizações que perdurarão serão aquelas que souberem respeitar e preservar os seus recursos naturais. Terá que haver, portanto, um equilíbrio entre o crescimento de uma determinada população e o impacto que este mesmo cria na mãe natureza.
Portugal escapará à sua morte? Segundo Jared Diamond, é bem possível que não. Segundo o mesmo, as nações que estão condenadas ao Colapso apresentam pelo menos quatro destes requisitos:
1) desflorestação e destruição do habitat natural,
2) problemas do solo (erosão, salinização e perda de fertilidade do solo),
3) problemas de gestão dos recursos hídricos,
4) caça excessiva,
5) pesca excessiva,
6) efeitos da introdução de novas espécies sobre as espécies autóctones,
7) aumento demográfico
8) aumento per capita do impacto dos seres humanos.
Ora, segundo esta lista, já temos quatro maus requisitos para a sobrevivência…
Para ler, com muita lucidez!
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