O Último Hotel, de Roberto Innocenti e J. Patrick Lewis
Na semana passada, falámos de uma obra de investigação polémica, relacionada com o excessivo poder de algumas pessoas invulgarmente influentes e abastadas. Na verdade, nós já demos relevância a vários tipos de leitura: livros de aventuras, histórias de terror, poesia, investigação científica ou histórica, etc. Mas nunca fizemos uma sincera homenagem à banda desenhada, este estilo artístico tantas vezes desprezado e visto como sendo uma “arte menor”. “Ah, isso é para os putos!”, dizem os portugueses.
E, de facto, isso não é verdade: há grandes génios da banda desenhada como, por exemplo, George Herriman (há quem diga que ele foi o primeiro grande génio deste género artístico), Alan Moore, a dupla Goscinny/Uderzo (da colecção “Astérix”), Hergé (o criador da personagem Tintim), Hugo Pratt (criador de “Corte Maltese”), Moebius, entre muitos e muitos outros exemplos. O ilustrador Roberto Innocenti, com a colaboração do escritor J. Patrick Lewis, fez uma belíssima homenagem à literatura, inventando uma personagem que, perdida, vai parar a um hotel extraordinário, cheio de hóspedes muito particulares:
O jovem pescador pescava prodígios.
A rapariga inválida lia pela vida.
O marinheiro da perna de pau cavava a fortuna.
O artífice das palavras escrevia pela cor.
O inspector perseguia o sentido.
O vagabundo alto procurava o amor.
O aviador voava pela aventura.
A poetisa reflectia na verdade.
O empoleirado na árvore vigiava heróis.
O cavaleiro dos moinhos de vento esperava a coragem.
Numa palavra, todos eles semeavam curiosidade
E colhiam imaginação.
Reconhece alguma destas personagens? Não se preocupe: no final desta pequenina jóia, que se lê em meia-hora, os autores deram-se ao trabalho de criar um Posfácio, que serve para explicar ao leitor quem são todas elas e de que livros famosos vieram. Segundo Ana Margarida Ramos, a personagem deste livro é o próprio Roberto Innocenti que, num hotel perdido no tempo, encontra todas estas pessoas imaginárias que lhe marcaram a vida. Com humor, mas também com particular expressividade e sensibilidade (…), Roberto Innocenti recria um universo que resulta da amálgama de leituras e de referências do autor e que pode ser ponto de partida para outras leituras. Saint-Exupéry ou a pequena Sereia, o inspector Maigret ou Huckleberry Finn são alguns dos extraordinários hóspedes deste livro-hotel cheio de imaginação.
Divirtam-se!
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