quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Sabedoria Oriental – O Mistério Da Poesia Haiku

Para quem nunca ouviu falar deste tipo de poesia, o Haiku japonês nunca tem mais do que três versos de 5/7 sílabas cada (claro que esta harmonia perde-se com a tradução). O objectivo é atingir a perfeição e a paz através da simplicidade absoluta: menos é mais.

A primeira parte do poema é descritiva e contemplativa, ao passo que a segunda parte já se debruça sobre uma determinada acção/reacção. Quanto à conclusão, esta tem que criar impacto no leitor e transmitir-lhe a sensação de um definitivo ciclo que termina: início, desenvolvimento, fim. Um poema Haiku perfeito, lida a última estrofe, tem que representar um círculo sublime, sem falhas: se ficarmos a “chorar por mais”, então a obra poética não está equilibrada e a perfeição não se atingiu.

Apresentamos aqui as quatro estações vistas pelo poeta Basho (1644-1694), um dos nomes mais brilhantes da poesia japonesa e deste género de poesia.

PRIMAVERA

clip_image002Apesar da névoa
Mesmo assim é belo
O Monte Fuji

Não esqueças nunca
O gosto solitário
Do orvalho

Brisa ligeira
A sombra da glicínia
Estremece

Debaixo de uma cerejeira
Tudo é servido
Decorado com flores

Extingue-se o dia
Mas não o canto
Da cotovia

Depressa se vai a Primavera
Choram os pássaros e há lágrimas
Nos olhos dos peixes

VERÃO

Preso na cascataclip_image004
Um instante
O Verão

Um peixe
Nuvens arrastam-se
No leito da ribeira

Frescura
Os pés no muro
Ao dormir a sesta

Num atalho da montanha
Sorrindo
Uma violeta

Silêncio
As cigarras escutam
O canto das rochas

Ervas no estio
Eis o que resta
Do sonho dos guerreiros

OUTONO

A pequena lagarta vê passarclip_image005
O Outono sem pressa
De se tornar borboleta

Trevos roxos ondulam
Sem deixa cair
Uma só gota de orvalho

Admirável aquele
Cuja vida é um contínuo
Relâmpago

Na escuridão do mar
Brancos gritos
De gaivota

Acabou-se o óleo da lamparina
Mas eis a Lua
Que entra pela janela

Outono
Empoleirado num ramo seco
Um corvo

INVERNO

clip_image007Primeira neve
Basta um floco para vergar
A folha do junquilho

Um vento glacial sopra
Os olhos dos gatos
Pestanejam

Mesmo um velho cavalo
É belo de manhã
Sobre a neve

Oh, anda ver
Uma bola de neve
A arder

Primeiro aguaceiro de Inverno
Meu nome será
Vagabundo

Deixem-me caminhar
Até que tropece e desapareça
Na neve

Estes poemas foram seleccionados do livro "O Gosto Solitário do Orvalho" de Matsuo Basho, editado pela Assírio e Alvim em 1986. O texto introdutório retira informações do prefácio de Jorge de Sousa Braga.

Os poemas foram retirados do site

Imagens retiradas de: 1  2   3  e   4

1 comentário:

Lyta disse...

Lindo, lindo, lindo...
Pela minha parte...obrigada!!!

Lyta