Ninguém gosta de ser velho. A velhice não só acaba com a nossa cara fresca e bem-disposta como destrói, acima de tudo, a saúde, debilitando-nos e arrasando a nossa independência e espírito livre. A velhice oferece-nos de bandeja o cansaço, as dores todas pelo corpo, os ossos emperrados, a fraqueza nas pernas, a falta de visão, a queda do cabelo, os quilinhos a mais, recordações confusas ou o desaparecimento das mesmas. Por isso mesmo, a História da Humanidade está cheia de lendas girando à volta de uma maravilhosa fonte de juventude, e bastava um pequeno golinho para restituir a força ao herói e a beleza à mulher.
Mas embora exista já um gigantesco exército de cientistas a trabalharem no mundo da cosmética – e palavra “maquilhagem” já deixou de fazer sentido, pois estamos a falar, para todos os efeitos, de medicina – a maioria está apenas interessada na “futilidade” das rugas e de um corpo aparentemente saudável. Até aqui, não há nada de errado nisto. Uma pessoa que gosta do que vê ao espelho tem mais auto-estima do que aquela que foge dele. O problema reside no facto de que a sociedade vive obcecada pela eterna juventude, e quem tem 30 anos em Portugal já não consegue arranjar emprego em lado algum, pois, por mais jovem que a sua aparência seja, o BI diz exactamente o contrário. E há alguma coisa de errado numa cultura onde uma pessoa entra em pânico se vê uma ruga no rosto ou já não consegue encher o frigorífico por causa da mesma.
Todavia, também existe um pequeno grupo de cientistas cujo objectivo não é dar uma cara bonita aos seres humanos mas criar qualidade de vida. E a melhor coisa que se pode fazer para se conseguir isso é… reverter o processo da velhice. Ficção científica? Não, já não é ficção científica, é neste momento a mais pura das realidades: uma equipa de cientistas da Escola de Medicina de Harvard, liderada pelo Biólogo de células cancerígenas Ronald dePinho conseguiu este feito extraordinário: a sua equipa de investigadores conseguiu artificialmente "ligar e desligar" o gene responsável pela reparação do ADN de ratos de laboratório. As cobaias foram primeiro sujeitas a envelhecimento prematuro, que causou a perda de capacidades cognitivas e sinais exteriores, e quando o gene "voltasse a ser ligado" esperava-se um "abrandamento do processo de envelhecimento ou estabilização". "Em vez disso, vimos uma inversão dramática dos sinais e sintomas do envelhecimento: o cérebro aumentou de dimensão, a memória melhorou, deixou da haver pelos grisalhos e regressou a fertilidade", disse à Lusa. "Isto ensina-nos que há uma tremenda capacidade de os nossos tecidos se rejuvenescerem por si próprios", adianta dePinho.
O artigo foi publicado no final de 2010 na revista Nature e tem causado sensação em todo o mundo (podem ler a notícia completa aqui. Independentemente das implicações éticas que esta descoberta pode trazer, duas coisas são certas: o que esta equipa criou foi extraordinário e, há 200 anos, seria considerado magia ou milagre. Além disso, caso esta investigação vá para a frente, veremos no futuro velhinhos a surfar, a ler sem problemas nenhuns, a participarem em desportos radicais, a ajudarem a família em vez de estarem dependentes dela.
Mas não há bela sem senão: agora que vamos ficar mais jovens, o que vai acontecer às reformas? Iremos trabalhar até aos 120 anos? Poderá o nosso planeta, cada vez mais populoso e com uma escassez cada vez mais gritante de água, oxigénio e alimentos, aguentar ainda mais humanos que parecem que nunca mais vão morrer? E para que é que nos serve a juventude se, ao batermos as portas à procura de emprego, os patrões só querem jovenzinhos até aos 28? Vale a pena sermos “velhos” num mundo assim?
A ver vamos.
1 comentário:
No dia em que isso acontecer, a sociedade vai ter que se adaptar. A bem ou a mal a Humanidade adapta-se sempre.
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