O Senhor Dos Anéis, de J.R.R. Tolkien
O filme já foi visto, já toda a gente conhece a história, foram anos de histeria colectiva à volta da trilogia de Tolkien, já toda a gente tem uma palavra a dar sobre esta história e estas personagens, toda a gente sabe quem é o Legolas e o Frodo… Então por que motivo esta grande obra-prima do género da Fantasia continua a ser lida e estudada (até nas faculdades!)?
Por uma razão muito simples: foi a primeira aventura de todas que fez da Fantasia um género maior e não apenas contos de fadas para a pequenada. Foi graças a Tolkien que um novo tipo de narrativa começou a ser valorizado: a criação de universos, de sagas de reinos perdidos. Sim, é verdade: histórias de aventuras, de fadas e bruxas, de cavaleiros valorosos e feiticeiros negros ligados a deuses do Mal sempre existiram. Mas o que Tolkien fez de absolutamente revolucionário foi criar tudo um universo do nada. Ele criou a História de todos os povos da Terra Média, desenhou do nada os mapas da Terra Média, criou quase do nada as línguas deste reino imaginário, inventou a comida, os hábitos, os costumes, os deuses e deusas da Terra Média, desenhou as genealogias dos reis e rainhas desse tempo perdido, descreveu as cidades caídas e as cidades ainda vivas deste planeta dos sonhos, inventou a flora e muitos animais imaginários, inventou superstições e medos de eras perdidas, deu alma e corpo a todo um universo distante que, segundo o autor, existiu ainda antes das pirâmides e que hoje se encontra injustamente esquecido.
À medida que vamos lendo esta fabulosa narrativa nem nos apercebemos de que estamos no mundo dos sonhos: as personagens são tão credíveis e o universo é tão real que depressa nos deixamos levar pelas peripécias e devaneios dos nossos heróis ou inimigos. É bastante comum as personagens passarem por ruínas de reinos esquecidos, túmulos com os nomes apagados, cidades já velhas e carregadas de fantasmas. O peso do Passado e da História é bastante palpável, e é precisamente isso que cria na narração uma aura de veracidade, como se de facto todos os acontecimentos narrados neste romance tivessem mesmo sido parte de um passado da Terra há muito apagado. O mundo da Terra Média não é um cenário feito de plástico, para dar cor às aventuras e desventuras das personagens. É, para todos os efeitos, um mundo carregado de mundos e civilizações esquecidas.
É fascinante que tudo isto tenha sido a criação de um professor tímido, muito católico e conservador, e mais fascinante ainda é sabermos que a Terra Média nasceu nas trincheiras da I Grande Guerra. Tolkien aproveitava os seus tempos mortos escrevendo e delineando O Livro dos Contos esquecidos. Nesta altura, Frodo Baggins e Aragorn não existiam e o mesmo se pode dizer de Gandalf e Saruman. O Senhor dos Anéis é apenas uma ínfima parte de toda a História da Terra Média, conta apenas os acontecimentos que tiveram lugar na Terceira Era, e muito ainda há para saber do passado e futuro de cidades como Rivendell ou reinos como Rohan. Para aprofundarmos mais os nossos conhecimentos teremos que ler O Silmarillion e estudar uma série de contos e estudos feitos pelo autor, e que nunca chegaram a ver a luz do dia enquanto Tolkien vivia.
O Senhor dos Anéis é para nós um verdadeiro hino à mente Humana e o que esta pode fazer, quando se mete a sonhar e a brincar aos deuses. Tudo isto não passa de palavras escritas em papel. Mas, se é assim, por que motivo ficamos com a sensação de que Frodo e os seus amigos são tão reais? Porque na nossa mente eles vivem como D. Quixote ou Hamlet, são tão verdadeiros como Drácula e Frankenstein, como Harry Potter ou Oliver Twist, como Sherlock Holmes ou Darth Vader.
A mente Humana é realmente extraordinária…
1 comentário:
Adoro este livro. É um dos livros da minha vida. Quem não o leu morrerá sem saber o que é a Imaginação e o Talento.
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