domingo, abril 25, 2010

Oh, Faz Favor, Era Uma Bica E Um Viagens Na Minha Terra!

Ainda a propósito do Dia Mundial do Livro:

A crise aperta, todos nós o sabemos, e se já é difícil convencer um português a comprar livros, mais difícil é vendê-los em épocas de penúria. Segundo estatísticas nossas, mais de 100.000 livros por ano são “guilhotinados”, ou seja, vão parar ao Eco-ponto se, após um curto período de meses, não forem desejados por ninguém. Eu, que o diga: há cerca de dois meses atrás, andei à procura do romance O Homem do Animatógrafo, de Gert Hoffman, e disseram-me que essa obra não só já não estava à venda como, ainda por cima, nem sequer esperavam voltar a editá-la. O que é uma pena, pois foi uma das histórias mais bonitas que já li, para além de ter sido uma tocante homenagem ao Cinema Mudo.clip_image002

A atitude destas agências de livros é, por mais que nos desagrade dizer tal coisa, perfeitamente compreensível: não têm espaço para guardar todas as suas edições e de certeza absoluta que não vão ficar à espera que uma leitora “excêntrica” como eu apareça a pedir um exemplar de um livro publicado em 1993. O problema reside no facto de que muitas delas não fazem tenções nenhumas de doar livros a escolas e bibliotecas, precisamente porque (estão sentados???!!!) não querem pagar mais IVA por causa desta boa acção. É isso mesmo, ouviram bem: se tens uma oficina que edita livros, aprecias a cultura e queres oferecê-los a uma destas instituições, passa para cá o IVA e cala-te!!! Não admira que muitos acabem no eco-ponto... Mas há luz ao fundo do túnel: a nova Ministra da Cultura já está a preparar um novo documento legislativo, que isenta as editoras livreiras de pagar este imposto,caso desejem fazer doações, e pensa-se que a papelada legal estará definitivamente pronta no final da próxima semana (leiam aqui):. Se esta excelente ideia for mesmo levada para a frente, os nossos alunos e leitores de todas as classes sociais irão beneficiar e bem com esta nova decisão do governo evitando, assim, que muitas obras literárias desapareçam de vez do mapa do nosso país.

Mas se existe um povo que é capaz das ideias mais imaginativas do mundo, esse povo é o Norte-Americano: aqui há uns anos atrás, uns carolas inventaram uma máquina chamada Expresso Book Machine (vale a pena ler esta história aqui:http://www.publico.pt/Cultura/livros-a-medida-das-nossas-necessidades_1431813 ) . Basicamente, é uma máquina multibanco de fazer livros. O leitor digita o nome da obra e do autor, mete o cartão de débito ou de crédito e... PLIM!: “olhó” livro fresquinho, acabadinho de ser publicado!

A ideia é brilhante e tem 500.000 pernas para andar: é ecológica (só se gasta o papel necessário) e permite que antigas edições estejam sempre à mão de qualquer um. Por isso mesmo, Zita Seabra, a dona da Editora Alêtheia, quer contribuir para combater os livros em stock e o desperdício, acabar com armazéns de monos e recuperar bons livros esgotados, e por isso criou uma empresa dedicada à impressão a pedido. É a Várzea da Rainha Impressores SA (VRI), teve um investimento de um milhão de euros, está sediada em Óbidos e brevemente vai aceitar encomendas através de um portal na Internet que está a ser construído. Para já, disponibilizam toda a informação sobre os seus serviços no site.

Não nos venham, portanto, dizer que em Portugal não há pessoas com iniciativa: Zita Seabra está de parabéns e, se a sua empresa tiver futuro, os livros irão ficar estupendamente baratos, pois serão publicados segundo o desejo do leitor e não através de “estudos de mercado”.

Será que é desta que eu voltarei a ler O Homem do Animatógrafo?

Imagem retirada daqui

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