Libertação Animal, De Peter Singer
Corria a década dos anos 90, quando a Internet explodiu em praticamente todas as casas do Mundo Ocidental. É verdade que esta já existia nos anos 80, mas era tão cara e tão lenta que poucos eram aqueles que tinham acesso a tal privilégio. Quanto muito, eram as empresas e companhias que começavam a tirar proveito desta nova ferramenta de vendas e de negócios.
Para quem tem mais de 30 anos, as memórias estão muito nítidas: este serviço era feito única e exclusivamente por uma linha de telefone, levava séculos a abrir e estava sempre a cair, para grande desepero dos seus utilizadores. Hoje, têmo-la em todo o lado e a uma velocidade que faz inveja à primeira geração que usufruiu desta gigantesca biblioteca de informação.
Por que motivo estamos nós a falar da Internet num artigo dedicado ao nosso livro da semana? Expliquemos melhor: antes desta ferramenta de conhecimento, tínhamos os livros, a televisão, os jornais, o cinema e as rádios. À excepção de algumas reportagens nos jornais, nenhum destes serviços públicos, absolutamente nenhum, focava os direitos dos animais. Lá se falava de vez em quando dos cães abandonados, lá se falava de vez em quando dos bichinhos nos jardins zoológicos, lá se falava dos “maluquinhos” da Greenpeace e dos seus boicotes “esquisitos”. Mas nunca se saía daí. Foi a Internet que mudou tudo, que provocou uma extraordinária revolução de mentalidades, revolução essa que já andava a germinar nos anos sessenta e setenta. Foi a Internet que deu força a conceitos como “Aquecimento Global” e “Direitos dos animais”, conceitos estes com que muitos “putos” já se identificavam, mas que não tinham nem expressão nem voz nos meios de comunicação mais tradicionais. Explodiram as gravações clandestinas em aviários e ganadarias, explodiram as “guerilla tv” em laboratórios e em canis, explodiram os sites e blogs a denunciar maus-tratos a animais, explodiram os testemunhos gravados e comentados acerca de jogos “tradicionais” como, por exemplo, a tourada, a luta de cães e as lutas de galinhas, entre outras “brincadeiras didácticas” criadas pelos Homens, para os Homens e para único e exclusivo divertimento dos Homens.
Mas antes desta explosão, o filósofo e bioético Peter Singer (foto à esquerda) escreveu em 1975 um livro que se tornou a Bíblia dos defensores dos direitos dos animais. Contra tudo e contra todos, este escritor demonstrou A+B até que ponto o ser humano é racista para com as restantes espécies deste planeta. A este preconceito utilizou o nome Especismo, ou seja, o desprezo por qualquer vida neste mundo, a não ser que seja a Humana. Este termo já tinha sido inventado por Richard D. Ryder, mas foi Peter Singer que o tornou famoso e conhecido por todos. Aliás, o capítulo 5 deste livro explica, e muito bem, quando e de onde é que veio a ideia de que nós somos superiores e os “outros” são inferiores, por que motivo foi socialmente aceite e por que motivo ainda hoje é conveniente para milhões e milhões de seres humanos que este tipo de “racismo” continue a ser válido. Para isso, Singer recorre ao conceito de Moralidade, isto é, a nossa responsabilidade, as nossas emoções e a nossa honestidade para com todos os seres sentientes à nossa volta.
Até ao capítulo II, o leitor está gostar muito deste livro e a concordar a 100% com ele. Mas as coisas começam a piorar, a partir do momento em que entramos para o capítulo III (Visita a Uma Unidade de Criação Intensiva) e chegamos à conclusão de que os verdadeiros culpados por toda esta carnificina...somos nós, o “cidadão comum”. A partir daqui, temos que começar a fazer escolhas: ou mudamos a nossa vida (a secção dos apêndices está cheia de dicas e de sugestões bem práticas) ou não passamos de hipócritas, que falamos dos “animaizinhos” porque esta conversa está muito in e é boa para arranjar parceiro/a.
Vinte anos depois, esta obra foi submetida a uma revisão, e podemos concluir que muita coisa já mudou: a título de exemplo, já é comum muitos restaurantes terem pratos vegetarianos, já é comum muitas pessoas se recusarem terminantemente a usar peles verdadeiras, já é comum muitas marcas de cosméticos não testarem os seus produtos em animais. Quanto à Comunidade Europeia, não só proibiu no ano passado o uso de cobaias em qualquer produto de beleza como, neste momento, está a criar leis que tenham como objectivo modificar as condições de vida em aviários e ganadarias.
Peter Singer não foi o criador da ideologia dos “Direitos dos Animais” mas foi o primeiro a trazê-la ao público. E a Internet fez-lhe um excelente serviço (vale a pena ler, aqui, uma crítica dedicada a este livro:
Sim: o mundo pode mudar e nem sempre é para pior.
Comerciais Históricos da PETA
Peles... E se fizessem com Você? (Publicidade)
Testes de Animais em Laboratórios (Publicidade)
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