Mulherzinhas, de Louisa May Alcott
Há livros que nos incomodam, há livros que nos deslumbram, há livros que nos fazem voar para outros mundos, há livros que são verdadeiros “murros no estômago”, há livros que denunciam a injustiça e o crime, há livros que nos ensinam coisas como as estrelas, a vida nos mares, as civilizações perdidas… E há livros que falam das coisas simples e maravilhosas da vida. Como a família, por exemplo. Ora, a família e a educação das mulheres são os temas centrais do nosso livro da semana.
Cem anos depois, por que motivo o romance Mulherzinhas ainda é hoje tão fascinante e tão familiar? Afinal, estamos a falar de um mundo que, para os americanos e os europeus, já (quase que) não existe. As mulheres já não são criadas apenas “para arranjarem marido” e para serem apenas mães. Além disso, esta obra literária aborda, como pano de fundo, a Guerra Civil Americana. Vivemos, actualmente, numa sociedade onde as mulheres e os homens (pelo menos aos olhos da lei) têm direitos iguais, oportunidades iguais, frequentam a mesma escola e as mesmas faculdades, lêem os mesmos livros, vêm os mesmos filmes, etc.
Porém, no tempo de Louisa May Alcott, nada era assim: embora já existisse uma corrente pré-feminista, que defendia que a Mulher nem só na esfera do lar se poderia afirmar, a sociedade ainda não estava preparada para aceitar estas “modernices”. Com efeito, na ausência do pai, que se encontra a combater (embora com o acordo deste), a mãe March tenta superar as suas dificuldades económicas e oferecer às suas filhas uma educação mais moderna e mais “feminista” (o Feminismo é uma ideologia do século XX, que se implementou após a Segunda Guerra Mundial. Defende a igualdade de direitos, até na vida profissional. No século XIX, tal ideologia ainda não existia). É por isso que uma das “mulherzinhas”, Amy, embora tenha muito talento como pintora, não é levada a sério nos meios artísticos. Sendo mulher, devia dedicar-se à casa, e a pintura não devia ser mais do que um simples “passatempo”. Por sua vez, Jo (personagem principal e Narradora), bate a todas as portas dos jornais e todos os donos dos mesmos afirmam que o público não está interessado em “histórias de fadas”. Como afirma Isabel Salema, “Mulherzinhas” é o retrato do dia-a-dia das quatro irmãs, que hoje pode parecer conservador e moralista, mas que na época não era tanto assim. As irmãs discutem boas maneiras, mas também se devem ou não trabalhar e ganhar a sua independência — as duas mais velhas trabalham para ajudar as finanças da casa. A família também discorda dos castigos corporais que Amy recebe na escola e a mais nova das irmãs nunca mais lá volta.
Mulherzinhas não é, nem por sombras, uma obra “datada” e “inofensiva”. Parece, à primeira vista, uma simples história de quatro “moçoilas” à procura da felicidade. Porém, um olhar mais atento permitir-nos-á perceber que a autora deste romance (e também a personagem principal) já possui uma mentalidade que, para a época, era considerada bastante moderna. Esta obra literária não é apenas um belo romance, é também um importantíssimo documento histórico de uma América que não permitia nada ao Sexo Feminino, nem sequer o direito de votar.
1 comentário:
é um dos meus filmes preferidos! adoro-o é mt especial!
bjs**
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