domingo, dezembro 06, 2009

Livro da Semana

As Suspeitas do Sr. Whicher, de Kate Summerscale

clip_image001 Custa-nos quase a acreditar mas, no século XIX, não existia ADN; as impressões digitais não eram valorizadas; não existia a Ciência Balística; não existiam profilers; não existia o FBI; não existiam profissionais especializados em encontrar pistas no espaço que hoje chamamos a “cena do crime”; as polícias não dispunham de laboratórios feitos especificamente para encontrarem qualquer substância química, que pudesse indiciar um possível assassinato; as autópsias ainda eram muito rudimentares e os polícias entravam no local do crime, destruindo provas e evidências; um detective não era respeitado e ganhava uma miséria de salário. Pior ainda, nem sequer estava autorizado a investigar famílias aristocratas. Quando tinha de o fazer, entrava pela porta dos fundos e tinha que “pedir a colaboração” dos suspeitos; não existiam nem câmaras nem telemóveis; não existiam profissionais especializados em ouvir gravações encontradas ao pé do/s cadáver/es por que não existia uma coisa chamada “gravador”. Em suma: aquilo que hoje chamamos a Ciência Forense (a arte de desvendar, com provas científicas, um crime) e que faz as delícias dos fãs da CSI… Não existia.

Então… Como é que se apanhava um criminoso, nesse tempo????!!!! Simples: confiava-se nas testemunhas (quando as havia, e todos nós sabemos que o olho humano pode enganar-se muitas vezes), chamava-se um detective (que fazia o que podia, quase sem recursos humanos e materiais fiáveis), acendia-se uma velinha aos deuses e rezava-se para se ter sorte. Mais nada.

É só no dia 30 de Junho de 1860 que a Ciência Forense efectivamente começa a ganhar forma e prestígio. O nosso livro da semana não é apenas um simples livro policial: trata-se, isso sim, de uma história real, que marcou a investigação criminal para todo o sempre. E este caso foi tão importante, que ainda hoje é estudado em todas as faculdades que preparam os futuros cientistas forenses.

clip_image005 Reza a sinopse: É meia-noite do dia 30 de Junho de 1860 e tudo está calmo na elegante casa da família Kent, em Road, Wiltshire. Contudo, na manhã seguinte, acordam e descobrem que o filho mais novo foi vítima de um crime extraordinariamente macabro. Pior ainda, o culpado é, de certeza, um dos seus - a casa estava trancada por dentro. Jack Whicher, o detective mais célebre da sua época, chega a Road para descobrir o assassino. Entretanto, o crime está já a provocar a histeria nacional perante a ideia dos podres que poderão existir por detrás das portas fechadas dos respeitáveis lares de classe média: clip_image003serviçais intriguistas, filhos rebeldes, insanidade, ciúme, solidão e ódio.

A autora deste romance policial, Kate Summerscale, ficou fascinada por este caso trágico e decidiu investigá-lo meticulosamente. Uma vez que não desejava ofender as pessoas que tomaram parte deste episódio histórico, a obra que escreveu foi elaborada com muito cuidado e elegância. Kate Summerscale reconstituiu passo a passo um dos crimes que mais chocaram a Inglaterra (A Imprensa da época chamou à mansão da família Kent a “Casa dos Horrores”) e mostra-nos como era feita uma investigação policial no século XIX. Este livro é também uma belíssima homenagem a Jack Whicher (última foto), um dos primeiros detectives a sério da Scotland Yard.

Um livro de leitura obrigatória e aclamado por escritores como John Le Carré e Ian Rankin.

A foto de Jack Whicher, bem como a ilustração da casa, foram retiradas do seguinte site:

http://www.dailymail.co.uk/news/article-1035832/The-whodunnit-How-murder-year-old-boy-gave-fictional-detectives-know-today.html

1 comentário:

Paula disse...

Tenho este livro na estante:)
Qualquer dia tem de ser.
Um abraço.