quarta-feira, abril 29, 2009

Onde É Que Você Estava No 25 de Abril?

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Há uns anos atrás, o escritor Baptista Bastos dirigia um pequeno programa na RTP, de nome Conversas Secretas, e que servia para entrevistar escritores, músicos ou até políticos. Durante a “amena cavaqueira”, colocava sempre a mesma questão ao convidado do momento: “Onde é que você estava no 25 de Abril?” Tornou-se, assim, uma espécie de “piada” que pegou, e era normal os portugueses, em jeito de brincadeira, fazerem essa pergunta uns aos outros. Mais tarde, o próprio comediante Herman José inventou uma rábula, parodiando precisamente estas “conversas” (ver a inesquecível “entrevista a Deus” do excelente programa Herman Enciclopédia: http://www.youtube.com/watch?v=Bo6t7QL_k4Q&feature=related). Aproveitamos para dizer que Baptista Bastos adorou a “gracinha”!

Pois é, essa questão serviu de mote para duas actividades que foram realizadas na nossa escola, a propósito da “Revolução dos Cravos”: no dia 23 de Abril, a turma A do 7º ano assistiu a uma “palestra” do professor de História Nuno Prates, que teve como objectivo explicar a esta nova geração de alunos como era o Portugal pré e pós-25 de Abril. Nessa aula, falou-se do fim da Monarquia, da implantação da República, das razões que levaram António de Oliveira Salazar a tomar o poder. clip_image004Falou-se de Humberto Delgado, da Guerra Colonial, do crescente descontentamento do povo português, mencionaram-se as diferenças entre a Escola do “tempo da outra senhora” e a Escola que hoje temos (os alunos tiveram acesso a manuais escolares daquele tempo, gentilmente emprestados por uma Encarregada de Educação). Por fim, foram colocadas questões sobre a PIDE e ainda houve tempo para ouvir o primeiro comunicado do MFA, transmitido na rádio às 4 da manhã do dia 25 de Abril. A sessão terminou (como não podia deixar de ser) com a canção emblemática Grândola Vila Morena, de Zeca Afonso.

Esta actividade serviu de introdução para a série de testemunhos que foram escutados no dia seguinte, na biblioteca da escola. O espaço estava tão cheio, que foi preciso arranjar à pressa mais cadeiras. Os convidados presentes (um “Capitão de Abril”, Manuel Soares Monge; a Educadora Guadalupe Pataca; a colaboração de Domingos Borralho e, por fim, os testemunhos da professora Arlete Sesinando) falaram das suas experiências pessoais e de um Portugal que, para todos os efeitos, já está muito distante destas novas gerações de alunos. clip_image008De facto, poucos tinham ouvido falar dos “ratinhos”; dos “cidadãos de primeira, segunda e terceira classe” do Estado Novo; poucos sabiam que o direito ao voto era um privilégio de muito poucos e que o candidato tinha que passar por vários “testes” para ter acesso ao cartão de eleitor (mulheres, é claro, à parte); não sabiam que, até 1974, o marido tinha o direito legal de abrir a correspondência da sua esposa; sabiam muito vagamente que as escolas e as universidades tinham “bufos” anónimos, pagos pela PIDE, para espiarem as conversas dos colegas e professores, e que bastava uma denúncia anónima para alguém ser preso; não sabiam que, para se ter um isqueiro, era necessária uma licença especial; que havia profissões em que as mulheres estavam literalmente proibidas de casar (a telefonista era uma delas); que era proibido haver “ajuntamentos” na rua que ultrapassassem o número singelo de duas pessoas.clip_image006

No fim, a sessão foi terminada com um aviso e um conselho: é mais fácil instalar uma Democracia do que mantê-la. Cabe às novas gerações velarem e lutarem para que todos os direitos conquistados não sejam memórias de tempos passados, e sejam sempre uma garantia do presente e do futuro. Sem participação cívica, sem espírito crítico, tudo aquilo que foi conseguido à custa de muito trabalho e esforço, perder-se-á facilmente.

O futuro pertence-lhes. Esperemos que este presente dos avós não acabe extraviado e perdido no sótão da indiferença ou da apatia.

Resta-nos agradecer a colaboração de todos os envolvidos, agradecer aos professores e alunos que quiseram assistir a este evento, e não é demais dizer “obrigado” à equipa da Biblioteca e do Centro de Recursos, por ter dado o seu apoio e uma “mãozinha” na decoração e organização do espaço.

Segue-se uma pequena exposição das duas actividades realizadas!

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1 comentário:

Anónimo disse...

´Muito boa ideia. Conhecer o passado é a melhor maneira de evitar erros no presente. E há momentos gloriosos que nos enchem de orgulho, algo de que muito precisamos.