Chegados ao solstício de Inverno, entramos no reino de CAPRICÓRNIO (de 22/Dezembro a 20/Janeiro), um novo ciclo celebrado no poema que, significativamente, dá título ao segundo livro da “Mensagem” - “Mar Português”.
Neste poema, alusivo ao décimo signo do Zodíaco (que completa, com Touro e Virgem, a trilogia dos signos associados ao elemento Terra), o poeta não exalta reis, homens de Estado ou, sequer, navegadores… Neste poema, é a “conquista” do Oceano que é celebrada, com todos os sacrifícios e gratificações envolvidos.
X. MAR PORTUGUÊS
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Representado por uma curiosa figura mitológica que combina corpo de cabra (evocando os picos rochosos da montanha) e cauda de peixe (reconduzindo-nos às profundezas abissais do oceano), Capricórnio realiza a síntese da altura e da profundidade, na perseverante escalada do Ser Humano em direcção à Luz.
Capricórnio convida-nos a redescobrir, em nós próprios, o imenso potencial, que todos temos, para alcançar o topo, o cume, o pico… o que é ainda mais alto (e mais profundo) do que o que julgáramos ser o mais alto… Uma caminhada de auto-aperfeiçoamento que requer paciência e persistência, tal qual a caminhada da semente no interior da terra enregelada, na sua longa marcha em direcção à longínqua germinação e à ainda mais longínqua frutificação (e gloriosa colheita!).
É nas profundezas da terra invernal que se elabora esta lenta e delicada obra de crescimento. Do mesmo modo, a natureza do nativo de Capricórnio constrói-se sobre um primeiro movimento de contracção, de retraimento sobre si, para depois se exteriorizar num processo de elevação e expansão no Mundo, manifestando e afirmando o seu valor profundo, geralmente ignorado durante muito tempo pela própria pessoa.
Há dores envolvidas nesta realização de si mesmo: lágrimas, preces ignoradas, sacrifícios de toda a ordem… Mas "tudo vale a pena / se a alma não é pequena.". E é a alma grande de Capricórnio que assegura a força interior indispensável para enfrentar, sem desanimar ou soçobrar, os inúmeros obstáculos que o ameaçam ao longo da jornada.
É hora de evocar GIL EANES, navegador português e escudeiro do Infante D. Henrique, primeiro a navegar além do Bojador (1434), dissipando o terror supersticioso que este promontório inspirava.
Segundo “reza” a História, entre 1424 e 1433, Gil Eanes terá participado de quinze expedições com a missão de sobrepujar o cabo maldito. Todas fracassaram, o que não surpreende… O Cabo Bojador era, popularmente, conhecido como “Cabo do Medo”. A 5 quilómetros da costa, em pleno alto mar, a profundidade era de apenas 2 metros, provavelmente devido ao assoreamento provocado por milhares de anos de tempestades de areia oriundas do deserto saariano. Ondas alterosas e recifes de arestas pontiagudas fervilhavam naquela região, tornando a navegação particularmente arriscada.
Mas nada disto fez desanimar o persistente Gil Eanes! Como lembra o poeta, "quem quer passar além do Bojador / tem que passar além da dor.” Em Maio de 1434, Gil Eanes aparelhou uma barca de 30 toneladas, com um só mastro e uma única vela redonda, movida a remos e parcialmente coberta. Ao chegar às proximidades do “Cabo do Medo”, manobrou, determinado, para Oeste, afastando-se da costa africana. Após um dia inteiro de navegação longe da costa, deparou com uma baía calma e abrigada. Dobrou então para Sudeste e percebeu que havia, enfim, deixado o Cabo Bojador para trás. Assim descobria Gil Eanes – e, com ele, toda a nação portuguesa, e toda a humanidade – que “Deus ao mar o perigo e o abismo deu, / mas nele é que espelhou o céu."
1 comentário:
Muito giro o texto!!!
O próximo signo é Aquário,o meu signo, espero um texto do mesmo género sobre os aquarianos...
Carmen
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