sábado, dezembro 06, 2008

Baú Da Avozinha

Os Gabinetes/Armários Das “Curiosidades”

clip_image002 Nos inícios do século XXI, custa-nos a acreditar que museus, como o nosso Museu De História Natural ou o famoso e grandioso American Museum Of Natural History (Museu Americano de História Natural, em Nova Iorque) tenham começado precisamente desta forma: com o contributo de uns tantos milionários ociosos e excêntricos.

No entanto, temos que perceber uma coisa: a Ciência, como hoje a conhecemos, ainda se encontrava no início. Não eram necessários diplomas e cursos profissionais para se fazer História. A Arqueologia, por exemplo, está cheia de historietas de condes, duques e milionários, que faziam descobertas fabulosas, porque eram uns apaixonados pelo Saber ou, simplesmente, porque estavam no sítio certo à hora certa. Mas o “bichinho” da aventura acabava por se entranhar no espírito destes aristocratas…

O que eram, então, os gabinetes ou armários das “curiosidades”? Em 1804, um jovem americano, de nome Delacourte, criou uma moda, entre as classes mais altas: expor as suas colecções “científicas” às visitas ou pessoas importantes. Mas estas colecções já existem desde o século XVI, graças aos Descobrimentos. Eram também conhecidas pelo nome de “Câmara das Maravilhas”.

No que consistiam? Era, no fundo, um enorme acumular de ossos de dinossáurios, corpos de sereias, aves embalsamadas vindas de países desconhecidos, olhos de espécies extintas, etc, etc. Normalmente, elas eram expostas numa espécie de montra em forma de armário (um bocado semelhante às cristaleiras de hoje, com uma pitada de escrivaninha) e causavam sensação e fascínio. Estamos, obviamente, a falar de um tempo sem televisão, Internet, telefone, cinema. Por isso, não é de espantar que o público ficasse emocionado ao ver um pica-pau embalsamado, um ovo de uma espécie já desaparecida, ou até a presença assustadora de uma múmia egípcia no seu sarcófago. Viajar era para os ricos, fim da história. As restantes classes trabalhavam e nunca chegavam a conhecer outras terras e outras gentes. Os nossos antepassados viajavam muito através dos livros, especialmente os de viagem.

clip_image003Obviamente que muitos destes “gabinetes” eram puro lixo: esta gente endinheirada, mas bem-intencionada, pouco ou nada sabia de Biologia, Geologia, Zoologia, etc. Daí o facto de serem facilmente enganados: os nativos dos países que eles visitavam não hesitavam em inventar as maiores petas aos senhores duques, com o objectivo de lhes sacarem uns bons dinheiritos. O que não quer dizer que só havia maus gabinetes: no meio de muita “tralha”, era possível encontrar importantes e fabulosos vestígios arqueológicos de outros tempos e de outras civilizações. Com o tempo, estes armários passaram a ser imensas salas cheias de “curiosidades” e raridades”, e muitos destes donos davam-se inclusivamente ao trabalho de estudá-las, desenhá-las e catalogá-las. A Ciência deve-lhes muito…

clip_image005Delacourte e os seus amigos eram também filantropos: quando se aperceberam de que as suas vastas colecções captavam a curiosidade de toda a gente, não hesitaram em criar “museus”, onde todos, pobres ou não, poderiam ter acesso a elas, a tronco de um cêntimo ou xelim. Houve mesmo autodidactas que criaram estes espaços nas zonas mais pobres da América ou da Inglaterra, na esperança de “educar” as massas mais desfavorecidas.

Porém, o tempo é impiedoso: quando os verdadeiros museus de História Natural começaram a abrir as suas portas ao público, e ainda por cima de graça, os “gabinetes” começaram a perder clientes. Um a um, foram desaparecendo. Ou melhor dizendo, as colecções foram doadas ou vendidas a estes novos espaços.

Nos andares mais baixos (e raramente visitados) do Museu Americano de História Natural, existem centenas de “gabinetes” doados. Esta grande instituição criou o hábito de acumular tudo o que tem adquirido, ao longo dos anos. Além disso, estes “armários de curiosidades” são uma parte da história do museu. Destruí-los, seria negar o seu passado.

Foi no ano de 2002 que dois escritores norte-americanos (Douglas Preston e Lincoln Child) criaram um livro policial, precisamente à volta destas colecções, de nome “O Gabinete das Curiosidades”. O sucesso foi tão grande, que muitos nova-iorquinos pediram ao seu Museu de História Natural para fazer uma gigantesca exposição, tendo como tema este pedaço fascinante da história do século XIX. Mas o seu desejo ainda não foi atendido…

Link para saberes mais:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Gabinete_de_curiosidades

S.C.

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