segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Livro Da Semana

Cultura: Tudo O Que É Preciso Saber, de Dietrich Schwanitz

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Já tínhamos mencionado, há alguns meses, acerca de uma nova moda que está a invadir as livrarias de todo o mundo: livros “dez em um” que, numas “escassas” centenas de páginas, conseguem a proeza de condensar matérias e conhecimentos de séculos ou até de milénios. Há até homens cultos e eruditos que se dedicam a isso mesmo: criar obras cujo objectivo é educar o “leitor preguiçoso”. É o caso

de pessoas como Harold Bloom, Paul Johnson ou Daniel Boorstin. São hoje conhecidos por Mestres-Escola e todos têm uma ideia catastrofista da nossa sociedade: a cultura está a desaparecer e é preciso preservá-la.

Alguns críticos afirmam que esta “mania mundial” não passa de um reflexo de uma sociedade cada vez mais preguiçosa, que quer o “agora e o já” e não está para ter a maçada de pesquisar e de procurar por conta própria. Como critica o brasileiro Jerônimo Teixeira (e muito bem!) De tão tradicional, o gênero já tem suas convenções. A mais importante delas é a lista. Nenhum livro dessa linhagem pode negligenciar os dez maiores filósofos ou os 100 grandes poetas. (…) Outra prática comum (...) é denunciar a decadência cultural. (...) Schwanitz deplora a influência da televisão na cultura contemporânea.

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Há muito de verdade nisto mas, sejamos honestos, obras destas sempre existiram ao longo dos tempos e têm tido sempre a virtude de enriquecer a alma de muitos amadores, ou seja, os leitores que amam o conhecimento (daí a palavra “amador”, aquele que ama) mas que, muitas vezes, nunca tiveram a possibilidade de ir mais longe. Assim, tornam-se auto-didactas, ou seja, aprendem sozinhos. Com muita, muita sorte, um ser humano tira dois, três cursos no máximo, e já sabendo que o segundo e o terceiro são feitos por pura e simples carolice. Não podemos aprender tudo mas podemos aprender um bocadinho de cada coisa. Desde que estes livros “dez em um” não sejam levados demasiadamente a sério (afinal, são sempre listas pessoais e subjectivas do que cada um considera ser “o essencial”), não há problema nenhum em lhes darmos uma espreitadela: (…) nunca antes a literatura, a filosofia, a arte estiveram tão disseminadas e acessíveis. As obras de Shakespeare e Darwin, por exemplo, podem ser encontradas em edição de bolso – ou lidas de graça on-line. Em vez de escorrer pelo ralo, a cultura está em toda parte. Por isso, os manuais da cultura são úteis – para quem souber tomá-los com um grão de sal e desconfiança, e como leitura introdutória, é claro ( vale a pena ler a sua excelente crítica a este livro: http://arquivoetc.blogspot.com/2007/08/cultura-geral-de-dietrich-schwanitz.html ).

O nosso livro da semana é um destes exemplos: Dietrich Schwanitz é um erudito alemão que quer, numa obra condensada, informar os leitores daquilo que nós devemos saber, antes de morrermos: Literatura, Ciência, Gramática, Política, História, etc. Apresenta, obviamente, falhas: aborda muito pouco a poesia, revela algumas lacunas científicas e as suas opiniões sobre o século XX são muito pessoais e nada imparciais. A imagem que este filósofo e professor alemão tem da televisão, por exemplo, é extremamente negativa. E, no entanto, a televisão ofereceu ao mundo verdadeiras pérolas que ficaram para a história: as séries Raízes, Balada de Hill Street, Star Trek, Ficheiros Secretos, Sete Palmos de Terra, 60 Minutos, Zip Zip, as novelas brasileiras O Casarão ou Roque Santeiro, etc. Mais uma vez, o que importa é saber escolher.

Não se pode pôr tudo num manual sobre “o essencial”. E, sendo o autor um alemão vindo de uma cultura 100% europeizada, não é de espantar que a Ásia e África quase que não sejam mencionadas neste livro, senão muito ao de leve, como uma nota de rodapé. Pela minha parte, adoraria que um chinês, um africano ou um indiano fizessem exactamente a mesma coisa que Dietrich Schwanitz: deve ser fascinante conhecer a História do Mundo, desta vez pela perspectiva de alguém que nasceu noutro continente. Apesar de tudo, Cultura- Tudo o que É Preciso Saber, merece ser lido como um “aperitivo” para voos mais altos.

A ilustração foi retirada do blog acima referido.

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