Lançar poeira nos olhos
Quase nos custa a acreditar que, há umas simples décadas atrás, as ruas estavam inundadas de pó! E tal situação desagradável agudizava-se nas grandes capitais. O número gigantesco de pessoas a circular de um lado para o outro; as carroças e, mais tarde, os carros; a quantidade infindável de animais que partilhavam o espaço da cidade com os humanos (cães, gatos, cavalos, porcos, ovelhas, burros, etc); sem falarmos das construções de edifícios e reparações de muitas estruturas; tudo isto provocava imensas avalanches de pó a pairar no ar. Diz-se que, no início do século XX, Nova Iorque era um lugar onde só se podia circular com um lenço na boca, tal era a massa das multidões e tal era o seu galopante crescimento. Hoje, a esmagadora maioria das urbanizações do mundo ocidental possuem ruas e estradas devidamente pavimentadas, o que facilita e muito a diminuição da poluição no ar.
Hoje, o efeito desagradável do pó (comichão no nariz, tosse compulsiva, falta de ar e olhos a arder) só é sentido, actualmente, nas grandes corridas de automóveis. Porém, na Grécia antiga, os atletas dos jogos olímpicos corriam em caminhos arenosos. Ora, aqueles que corriam à frente levantavam imensas massas de poeira àqueles que estavam mais atrasados, o que os confundia bastante e os atrasava ainda mais!
Podemos concluir que, embora o sentido literal da expressão se tenha perdido, a mensagem continua a ser a mesma: “lançar poeira nos olhos” é confundir o vizinho do lado, distraí-lo, para podermos fazer sossegadamente aquilo que nos interessa.
Larga o osso! (ou Larga o osso, piranha!, no Brasil)
É o que costumamos dizer, quando um homem/mulher não pára de perseguir teimosamente a sua presa, ou seja, o seu futuro namorado ou futura namorada. Mas esta expressão, curiosamente, está mesmo ligada a um monte de ossos!
Expliquemo-nos então. Quando Vasco da Gama morreu, os seus ossos foram inicialmente trasladados para a Capela da Quinta do Carmo, na Vidigueira, e lá ficaram sossegadinhos durante doze anos (não nos esqueçamos que este português famoso era conde da Vidigueira). Porém, assim que a construção do célebre mausoléu do Mosteiro dos Jerónimos terminou, o governo de então achou por bem transferi-los para a capital do país. Como devem calcular, os vidigueirenses, orgulhosos da honra de terem restos mortais tão ilustres, não acharam piada nenhuma à decisão das autoridades. Vai daí… Trocaram os esqueletos!
A mentira não durou muito tempo: a comissão encarregada de recolher o defunto depressa constatou que aqueles ossos não podiam, de forma alguma, pertencer ao grande Vasco da Gama. Para começar, este português era conhecido por ser um homem muito forte e espadaúdo. Além disso, sabia-se que os ossos, enquanto estiveram enterrados na Índia, tinham adquirido uma coloração avermelhada, devido à natureza do solo que os cobrira. Com efeito, os restos mortais que tinham nas suas mãos, não correspondiam a nenhuma destas características.
Como é de se calcular, foi enviada outra delegação a Vidigueira e, desta vez, debaixo da fúria da multidão, levaram o verdadeiro defunto para Lisboa. E, durante muito tempo, os vidigueirenses passaram a ser conhecidos por “Larga o osso”…
Corredores olímpicos retirados de:
Túmulo de Vasco da Gama retirado de:
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