terça-feira, junho 01, 2010

Livro Da Semana

 

O Triunfo Dos Porcos, de George Orwell

clip_image002De onde vem o nojo milenar deste pobre animal chamado “porco”? Ao contrário do que muita gente pensa, o porco é um dos animais mais inteligentes deste planeta, é capaz de se socializar muito facilmente com os Humanos, é extremamente limpo se o deixarem ser (O Javali, o porco selvagem, é um bicho muito higiénico…) e a sua carne transmite tantas doenças como as outras carnes de muitos animais. O porco é “porco” porque o Homem decidiu tratá-lo como tal.

São imensas as explicações que tentam justificar a Porcofobia ou Porcofilia em muitas culturas e religiões (leiam este excelente artigo da autoria de Sandra Nogueira: http://antropologia.com.sapo.pt/malamado.htm), desde razões antropológicas até razões de higiene pública. Porém, a Genética é bem capaz de ter descoberto as raízes escondidas de tal repulsa: o porco é o animal que mais se aproxima geneticamente do ser humano. É tão perturbadoramente parecido connosco que os nossos antepassados, ao terem-no comido pela primeira vez, podem muito bem ter ficado com a sensação horrível de estar a comer “um dos nossos”. Aliás, os canibais da Nigéria tinham um nome para esta iguaria: “o grande porco”. É que a carne dos humanos, diziam eles, sabia exactamente à deste animal…

Porém, para o bem e para o mal, este pobre bichano passou a estar associado à porcaria, ao canibalismo, à crueldade, à falta de moral, à ganância e à gula. Por isso mesmo, não é de espantar que, neste livro, os políticos e governantes sejam comparados aos porcos. George Orwell, um dos escritores mais geniais do século XX, queria criar uma espécie de alegoria ao Comunismo, alegoria essa que pretendia demonstrar até que ponto os “amantes da Igualdade e da libertação do Homem” mais não eram do que criaturas gananciosas, que desejavam precisamente o mesmo que os reis, os czares e os imperadores: poder total e absoluto. E se O Poder corrompe, o Poder Absoluto corrompe absolutamente.

Toda a gente tem uma vaga ideia de como começa a história: fartos de serem explorados, espancados e escravizados, os animais de uma determinada quinta (aliás, o nome original do livro é Animal Farm) revoltam-se contra o dono Humano que os explora até à medula dos ossos, e quem irá liderar esta revolução serão os porcos. O sucesso foi tão grande que todas as outras quintas ali da zona imitaram os seus “camaradas” e libertaram-se da mão forte dos Humanos.

Até aqui, a vida é um mar de rosas, e esta nova comunidade até se deu ao trabalho de criar sete leis fundamentais, leis essas que tinham como objectivo lançar a igualdade entre todos os animais libertos. Eis os “sete mandamentos originais”:

clip_image0041. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimiga.
2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amiga.
3. Nenhum animal usará roupas.
4. Nenhum animal dormirá em cama.
5. Nenhum animal beberá álcool.
6. Nenhum animal matará outro animal.
7. Todos os animais são iguais.

Porém, os porcos, pouco a pouco, começam a cortar aqui, a cortar ali, a modificar uma lei, a dar um retoque noutra… Um dia, os “camaradas” de quatro e duas patas acordam e descobrem que

4. Nenhum animal dormirá em cama com lençóis.
5. Nenhum animal beberá álcool em excesso.
6. Nenhum animal matará outro animal sem motivo.
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais iguais do que outros.

Pensavam que se tinham libertado da sua escravidão. Em vez disso, tinham pura e simplesmente mudado de carrasco. Que fazer agora? Aceitar resignadamente o seu destino porque, haja o que houver, alguém há-de sempre mandar nos mais fracos e nas massas? Revoltar-se outra vez?

George Orwell deixa nesta obra uma das lições mais importantes da História da Humanidade e, infelizmente, esta é uma das lições que mais sistematicamente é esquecida por todos nós: não são os governantes/monstros/porcos que conseguem ter mão no poder, somos nós, as massas, que lhes oferecemos, de bandeja, o poder que eles desejam. Compete a todos nós estarmos atentos aos “sinais” que profetizam as futuras ditaduras.

Conquistar a Liberdade é difícil, mas é ainda mais difícil mantê-la.

Imagem retirada daqui

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