No próximo dia 12 de outubro celebra-se o Día de la Hispanidad, feriado nacional de Espanha, que comemora a chegada de Cristóvão Colombo às Índias Ocidentais, a descoberta do Novo Mundo que era o que hoje conhecemos como continente americano. Tal como os descobrimentos portugueses, são-nos hoje contadas histórias gloriosas, ou glorificadas, dos feitos heróicos que ocorreram: enfrentar mares revoltos, tempestades, tribos hostis e até monstros imaginários. Mas terá sido a realidade assim tão gloriosa?
Coincidentemente (ou não…),
apenas três dias depois do feriado nacional de Espanha, no dia 15 de outubro,
será celebrado o Dia Mundial da Resolução de Conflitos. Parece ser coisa pouca
– estes dias especiais não parecem resolver nada -, mas há dias que nos fazem
pensar e refletir. Sejamos honestos: até que ponto é difícil sararmos feridas e
recomeçarmos de novo, sem os fantasmas do Passado e do Presente?
Já cantava Elton John: A palavra “desculpa” parece ser a mais
difícil de dizer. E, no entanto, este filme não está apenas a tentar expor
um conflito do passado, ainda tão vivo no século XXI: ao mesmo tempo, deixa bem
claro que a escravidão nunca acabou, simplesmente mudou de rosto e de táticas.
Hoje, já não é comum em muitos países vermos um Humano amarrado e acorrentado,
a ser vendido numa praça. Contudo, o que é que vocês acham que é o “trabalho
infantil”? O que é que vocês pensam que é o “trabalho à jorna”? O que é que
vocês pensam que a Apple é, quando coloca grades nas janelas das suas fábricas,
para impedir que os seus escravos-a-fazer-de-conta-de-que-são-trabalhadores não
possam cometer suicídio? Aliás, a inteligência desta corporação mortífera é tão
boa que eles nem sequer têm fábricas, pagam “o serviço” a outros carrascos. Assim,
a Apple não poderá ser acusada de maus tratos aos trabalhadores, pois pode
sempre alegar desconhecimento…
Também a Chuva ganhou em 2010 o Óscar do melhor filme estrangeiro e
foca dois tempos: a chegada de Cristóvão Colombo e o genocídio que os índios
sofreram, como consequência da dita cuja “Cristianização”, e foca o ano de
2000, quando os Colombianos declararam guerra à corporação Americana Bechtel,
uma companhia que supostamente devia distribuir a água a todos os nativos deste
país, mas decidiu, de um dia para o outro, vender a água da torneira a preço de
petróleo. Estas duas batalhas – uma do século XVI e outra do século XXI –
fundem-se numa sala de cinema escura, um espaço onde atores, realizadores,
músicos, pessoal de limpeza e restante público se encontram. Este é um lugar
que foi criado (sem dúvida!) para entreter, mas também foi criado para refletir
e mudar. E sarar feridas. E resolver conflitos.
Deixamos em baixo um pequeno trecho
do filme, para aguçar o apetite. Prestem muita atenção à cena do afogamento das
crianças. Reparem no olhar do “Homem Branco”, ainda arrogante o suficiente para
achar que a “sua cena” é mais importante do que outras coisas. E o olhar do Índio,
que não quebra, e que é de opinião de que há certas coisas que nunca poderão ser dramatizadas.
Por muito boas que as intenções
sejam.
Trecho do filme También la Lluvia (sem legendas) - Aqui
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