É graças à excelente adaptação para televisão do canal BBC one (imagem em cima) que muitos portugueses descobriram este padre muito especial: um homenzinho curvado, de óculos grossos e olhar penetrante, sempre carregando o seu guarda-chuva, andando de bicicleta, sempre atento aos problemas da sua vilazinha adorável.
E, no entanto, o escritor G. K. Chesterton teria dificuldades
em reconhecer esta versão moderna da sua personagem! O padre Brown dos livros
difere bastante daquele que vemos na televisão: sim, é verdade que este “servo
de Deus” está muito atento aos problemas sociais do século XX: a pobreza, a
discriminação, a crueldade, a guerra, a ganância, os refugiados, etc. Podemos
assumir que – no geral – padre Brown tem inclinações “socialistas”. No entanto,
ele não deixa de ser um conservador católico: a sua relação com os ateus pode
ser de respeito, mas é de grande desconfiança e, sobretudo, critica cultos
ligados a Wiccas, novas eras, etc. Além
disso, o humor do verdadeiro padre Brown é mais irónico, menos “explosivo”,
mais sóbrio. Para terminar, as suas investigações são solitárias: não há Lady
Felicia, não há Mrs. Mccarthy, não há inspector Mallory.
Padre Brown foi inventado numa altura em que a Igreja
Protestante Inglesa era muito “Anti-Papista”, muito anti-Católica. G.K.Chesterton
desejava falar de “um outro olhar”, um olhar pós modernista, pós guerra. O seu
desejo era criar uma personagem que, apesar de ter assistido a duas guerras
mundiais sangrentas, continuava a acreditar em Deus, e usava a força de Deus
para combater o crime, sem nunca perder o seu raciocínio científico e dedutivo.
Para isso, baseou-se num padre católico da vida real, O Reverendo John O’
Connor, para criar um imaginário que, inicialmente, era anglicano. Aos poucos,
tornou-se católico. E Chesterton tanto investigou a fé católica, que acabou por
se converter a ela!
Apesar das diferenças, podemos afirmar que a “adaptação
moderna” do Padre Brown é uma das poucas que consegue ser criativa, sem ser
“politicamente correta”. Mais ainda, evita politizar os seus episódios, o que é
uma mais-valia nos tempos de hoje. Quanto aos livros, vale a pena conhecer o
verdadeiro Brown: um homem extraordinariamente inteligente, muito humano, muito
“iluminado”. Um homem de pensamento complexo e raciocínio arguto, alguém que vê
com olhos de ver e ouve com ouvidos de ouvir.
Algo que só um padre a sério sabe fazer.
Imagem retirada de:
https://filmow.com/padre-brown-1a-temporada-t76232/ficha-tecnica/
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