Estávamos no ano de 1931. O escritor Georges Simenon, de
férias na Holanda, estava sentado numa esplanada bem ao pé de um canal. De
repente, quase como se fosse uma revelação divina, imaginou um inspetor de
polícia parisiense, a experienciar uns dias de descanso na nação das tulipas. A
sua própria constituição física – segundo o próprio autor – foi baseada na
figura do seu próprio pai. Nasce, então, Jules Maigret, o “Sherlock Holmes da
França”.
Porém, as diferenças acabam por aqui: Jules Maigret é um
homem casado – e bem casado. Não têm filhos - a única filha que tiveram morreu
à nascença - mas ele e ela são unha com carne. São tão unidos que, muitas
vezes, ele pede conselhos e opiniões à sua mulher, sempre que tem uma dúvida em
relação a um crime. Louise é a Watson deste universo policial.
E, por fim, temos uma outra forma de pensar e de viver este
mundo: o olhar sereno, mas ao mesmo tempo intelectual de Paris. Há uma
atmosfera francesa na grande literatura de Georges Simenon, um olhar
circunspeto mas também doce da existência humana. É impossível não amarmos esta
personagem, tão humana, tão compassiva.
A nossa biblioteca possui uma vasta coleção. Não, não são só
quatro volumes, são imensos. Os nossos visitantes têm muito por onde escolher.
E uma coisa é certa: o género policial – tantas vezes menosprezado e ignorado
pelas grandes academias e prémios internacionais – deve muito o seu prestígio a
escritores como Simenon. Não, não é só a história que importa: há toda uma
complexidade de pensamento humano, que se perde nas adaptações para o cinema ou
televisão.
É que Maigret não é assim tão fácil de dramatizar...
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