terça-feira, fevereiro 07, 2012

Entender e aceitar a morte, parte II


Sven Fennema é fotógrafo, nasceu no ano de 1981 e desde muito cedo apaixonou-se pela fotografia. Porém, o seu fascínio não reside em caras felizes, lugares cheios de gente, bonitas paisagens e imponentes monumentos. O seu fascínio desde pequeno é explorar lugares abandonados. Estações de comboio fechadas, cidades e vilas esquecidas, casas em ruínas… e cemitérios. As fotografias que aqui colocamos pertencem a uma série de imagens dedicadas a criptas abandonadas na Bélgica. Lugares onde já ninguém põe lá os pés, ou porque as famílias desapareceram ou porque os descendentes mudaram de casa e de cidade ou porque simplesmente já não há tempo para prestar homenagem aos mortos.

O que há de tão especial nestes espaços desolados? Bom, sejamos honestos: todos nós nos sentimos atraídos por algo que nos faça lembrar a memória do passado: uma velha fotografia de um parente desconhecido, uma casa antiga já sem teto, uma linha de comboio abandonada, uma estação de gasolina perdida no tempo. A palavra “fim” faz-nos pensar na nossa tão curta existência e do quanto é importante tirarmos proveito dela, enquanto cá estivermos. Não é por acaso que a capela dos ossos em Évora recebe dezenas e dezenas de milhar de visitantes todos os anos, e muitos deles são estrangeiros. A morte dos outros obriga-nos a ponderar sobre a nossa morte.
Sven, a propósito da imagem número 3, é claro: o ambiente de cada espaço provoca em nós um sentimento avassalador. (…) Olhar para este lugar cheio de lápides a ruir e restos de recordações – como as velhas cruzes e as flores – foi verdadeiramente especial, mas o resto é difícil de descrever. E ele tem, de facto, razão: quem é que nunca sentiu um fascínio – um tanto ou quanto mórbido - por cemitérios abandonados? Quem é que, tropeçando por acaso num destes sítios, não deambulou, cheio de curiosidade, por entre as lápides, lendo-lhes os nomes e mirando as fotos já empoeiradas? E quem é que não fez uma pausa para pensar nas questões mais óbvias: quem foi esta gente? Foram felizes? Foram amados? Deixaram saudades? A morte dos outros espelha a nossa morte.
E não há nada de errado ou de assustador nisso.  


Todas estas fotos foram retiradas daqui

1 comentário:

Mariza disse...

...não há nada como a Cremação. A Cremação confere dignidade aos mortos: uma queimadela e já está. Não há lápides esquecidas e flores de plástico empoeiradas.É muito triste pensar que todas estas campas foram compradas a muito custo pelos seus parentes e que agora estão abandonadas. Com a Cremação acaba-se tudo.