O Menino Que Sonhava Chegar À Lua, De Sally Nicholls
Quando o grande dia chegar – o dia da morte – como o encararemos? É interessante colocar esta questão aos nossos amigos ou parentes chegados, pois a nossa reacção revela bastante da nossa personalidade. Será medo? Então somos ainda muito jovens ou já bastante velhos, com a morte a roçar-nos os calcanhares. Será desinteresse? Então somos adolescentes ou adultos felizes com a vida, acomodados o suficiente para já não nos interessarmos pelos grandes enigmas da existência Humana. Reagimos com paixão? Então somos místicos, eternos curiosos. Revelamos revolta? Então alguém que amamos morreu recentemente ou somos activistas dos direitos humanos.
Porém, como vê a Criança a morte? Para as mais pequenas, esta condição da vida surge-lhes como uma revelação traumática, tão traumática que é raro um adulto se lembrar do dia/momento em que tomou a consciência de que tudo o que é vivo cedo ou tarde se “apagará”. Mas
para um pré-adolescente de 11 anos, este é um tema que não pode ser escamoteado e ignorado. Ainda é suficientemente pequeno para ainda acreditar que tudo é possível mas já é suficiente velho para perceber que o “fim”, afinal de contas, é bem real. Pior ainda é descobrir que esse “fim” é o seu fim.
Sam tem 11 anos e sofre de leucemia. Está em fase terminal e por isso sabe que vai morrer. Ponto final. É simples. Como as crianças, mantém ainda a fé e a chama. Porém, o corpo e o hospital em que vive estão sempre a lembrar-lhe que o melhor mesmo é não sonhar com muitas expectativas. Juntamente com o seu amigo Félix, outro menino internado com Cancro, brincam e divertem-se, como qualquer criança neste planeta. Entretanto, Sam começou a escrever um diário: como devemos encarar a morte, o seu grande sonho de conduzir um dirigível, como adquirirmos a imortalidade, perguntas que ninguém lhe quer responder ou não sabe responder…
A acção é sempre vista pelos olhos de Sam. Como todos os seres humanos, há muita coisa que lhe passa ao lado: a vida dos outros, o que os outros pensam e falam quando não está presente, o sofrimento da mãe, a revolta do pai. Sam tem 11 anos e só agora começa a entender o mundo. Cumprir um desejo é podermos voltar a acreditar no impossível, é acreditarmos que podemos chegar à Lua, se assim mesmo o desejarmos.
O desfecho não é feliz, mas é uma lição de vida. E é esse o poder dos livros: ensinarem-nos sempre qualquer coisa, mostrarem-nos que a nossa existência é uma entre muitas, e é assim que as coisas são e é assim que as coisas devem ser. Somos todos importantes e irrelevantes, o mundo passa bem sem nós mas terá saudades de nós.
O truque para vivermos bem é acreditarmos que a morte chega amanhã. Não sei quem afirmou tal mas, quem quer que tenha sido, estava certo: desperdiçamos inutilmente as nossas vidas e, quando damos por tal, 20 ou 30 anos passaram e já é tarde para voltarmos a ser crianças e acreditarmos que podemos chegar à Lua.
Se soubéssemos a data da nossa morte, quantos de nós não se agarrariam à vida?
Imagem retirada daqui
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