sexta-feira, outubro 21, 2022

Livro da Semana - Manuscrito encontrado em Accra, Paulo Coelho

 

Supostamente este manuscrito existe. Supostamente foi encontrado no Egito, juntamente com o famoso espólio de Nag Hammadi, descoberto em 1948. Supostamente um tal de Sir Walter Wilkinson encontrou-o e traduziu-o. Porém, quase tudo é uma ilusão de artista.

Sim, o espólio de Nag Hammadi é verdadeiro e criou sensação em 1948. Sim, é verdade que existiu um tal de Walter Wilkinson, mas este era um escritor, era botânico e era um apaixonado pela arte das marionetas. No entanto, tudo o resto foi inventado. E não, Paulo Coelho não está a mentir, esta é uma estratégia literária inventada pelos românticos, há quase 300 anos, com o objetivo de tornar uma história mais verosímil, mais realista, mais verdadeira. O escritor italiano Umberto Eco utilizou exatamente o mesmo truque na sua obra-prima O nome da Rosa. E Paulo Coelho fez exatamente o mesmo: com base em factos reais, criou um lindíssimo texto filosófico que poderia ter sido escrito e dito no século XI.

A sinopse é simples: Jerusalém está prestes a ser invadida – para não variar – desta vez pelo exército dos Cruzados. Um filósofo conhecido pelo nome “Copta” convoca a população desta cidade - cristãos, judeus e muçulmanos – para ouvirem algo muito importante que ele tem a dizer. Todos esperam um apelo às armas e à guerra e, no entanto, o que acontece é exatamente o contrário. Este filósofo não pede a guerra, pede a paz. E é precisamente este discurso na praça pública que chegou até nós…

No ano de 2022, às portas de uma III Guerra Mundial, vale a pena ler um livro destes? As mensagens são, sem dúvida, conflituosas: devemos aceitar o presente ou temos que lutar contra ele? Queremos a rendição da Ucrânia ou queremos passar fome? E, já agora, que poder é que NÓS, o povo, temos para mudarmos o mundo? Estas são as questões que nos surgem quando estamos a ler esta obra de Paulo Coelho. E isto demonstra até que ponto este livro é atual.

Porque os livros que nos fazem pensar e questionar são SEMPRE atuais.

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