quinta-feira, fevereiro 16, 2023

Livro(s) da Semana: A Imperatriz, de Gigi Griffis e Bridgerton - Crónica de Paixões e Caprichos, de Julia Quinn.

 

Não é por acaso que estes dois “livros da semana” aparecem, desta vez, agarradinhos um ao outro: não só servirão como tema para as próximas “StorytellingTime” – projeto “Escola a Ler” – no final deste mês, como também abordam o mesmo assunto: amores e desamores da famosa Aristocracia do século XIX. Para terminar com chave de ouro, estas histórias foram escritas por mulheres do século XXI.

Sim, o assunto é sem dúvida o mesmo. Mas precisamente porque as escritoras são do nosso tempo, a forma como elas descrevem esta elite é – admitamos – um bocadinho nostálgica, mas arguta: por um lado, há muito frou frou, muita beleza, requinte, elegância, romantismo. Estes romances acabam por ser uma espécie de “conto de fadas” para as jovens e mulheres maduras. Por outro lado, este mundo muito bonito já não é um mundo “Disney”: Julia Quinn e Gigi Griffis não escondem o facto de que a condição do sexo feminino não era das melhores coisas que existiam no século XIX, e as mulheres nada mais eram do que mercadoria para ser trocada, sempre que era necessário fazer contratos com outras famílias ricas. Sejamos honestos: estas belas e requintadas moças da sociedade eram “vendidas” pelos pais, para fins de trocas comerciais. Apesar de tudo, havia sempre a esperança de elas poderem encontrar o “Homem certo” e, desta forma, serem felizes nas suas prisões douradas.

Outro ponto a ter em conta: A Imperatriz é um livro baseado na história real da imperatriz Sissi da Áustria. Aliás, este romance deu origem a uma série da Netflix, que está a ter muito sucesso de audiências. Descreve o encontro entre Sissi e o imperador austríaco Franz até ao dia do casamento. Por isso mesmo, o futuro trágico e negro da nossa heroína não é mencionado. Ficamo-nos pelo lindo conto de fadas de dois aristocratas que se encontram, e que se apaixonam um pelo outro.

Bridgerton, por outro lado, é toda uma série de livros fictícia, que tem lugar na Inglaterra do século XIX. Julia Quinn é, para todos os efeitos, a Barbara Cartland do século XXI: as histórias leem-se bem, agradam a uma audiência feminina (mas também há um clube de fãs masculino), têm como único objetivo entreter – e nada mais. E não há nada de errado nisso. Nem sempre um livro tem que mudar um mundo. Outra curiosidade a apontar é o facto de que Bridgerton é um conjunto de nove volumes, dedicados a cada um dos oito irmãos desta família (o último é um epílogo e mostra o final de cada um deles), e cada uma das histórias pode ser lida separadamente.

Mas… então… para quê tanta polémica à volta deste universo??

A culpa, mais uma vez, é da Netflix. A obsessão da “inclusão e diversidade” – custe o que custar – gerou uma série de televisão em que famílias negras e indianas convivem lado a lado com a aristocracia branca do século XIX… e até a rainha de Inglaterra é negra! Nada disto é historicamente correto: havia sem dúvida famílias aristocráticas africanas e asiáticas, mas essas não punham os pés no palácio de Buckingham. Muita gente alertou – e com toda a razão! – para o facto de que muitos jovens não caucasianos de hoje começarem a acreditar que, no passado, todos eram tratados como igual, apagando, assim, todo o sofrimento e luta pela igualdade dos cidadãos “de cor”. Tais opiniões obrigaram a Netflix a deixar bem claro aos fãs que este mundo é uma “realidade alternativa”, onde as desigualdades continuam a existir, mas estas estão mais ligadas às desigualdades sociais e não rácicas. Escusado será dizer que a escritora Julia Quinn – que imaginou um universo monárquico mais historicamente correto, ou seja, é só brancos! - aceitou as mudanças e adora a série.

Aliás: o mais interessante a apontar nesta polémica não foi o facto de as massas ficarem em estado de choque, ao verem um negro e uma branca fazerem amor. O que mais chocou as audiências foi o facto de um casal destes não poder existir na “Era da Regência Britânica” do século XIX, e, por isso mesmo, esta intriga é historicamente incorreta. E isto faz-nos chegar a uma conclusão: ao contrário do que os media dizem, os humanos hoje são bem menos racistas do que eram há 100 anos. Chegámos a um ponto em que dois seres humanos com pigmentações diferentes podem casar-se, ter filhos, desempenhar os mesmos empregos e conviver na mesma classe social. E poucos franzem o sobrolho.

Graças a Deus. Afinal, em alguma coisa nós tínhamos que avançar, não é?

As capas dos dois livros foram retiradas do site de compras WOOK.



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