Imagine que, um dia, alguém bate à sua porta e você e toda a
sua família são levados para um vagão. Separam os parentes, cortam-vos o
cabelo, tatuam um número no vosso braço (como se fossem gado) e, a partir daí,
são mão-de-obra escrava, usada para todo o tipo de experimentos e trabalhos
forçados. Ninguém vos salvará, ninguém irá buscar-vos, nenhum tribunal quererá
saber de vocês.
Ficção Científica? Pois bem, isto é o que os prisioneiros
sentiram, quando foram levados para campos de concentração e campos de
extermínio alemães, durante a ditadura Nazi. E os poucos que sobreviveram lá
arranjaram coragem para contar ou escrever a sua horrífica história. E este
passado é tão terrível que, 75 anos depois, ainda hoje se encontram artefactos,
diários, cartas, testemunhos, fotografias associadas a estes dias negros.
Um destes sobreviventes foi a irmã de Anne Frank, Eva
Schloss. Ao contrário da primeira, conseguiu sobreviver a Auschwitz. Não
escreveu nenhum livro antes da captura. Foi só depois de escapar à morte. E a
sua dor e humilhação é de tal forma sórdida que nos escapa à compreensão. Por
mais que tentemos, não sabemos o que é sofrer tais horrores. O máximo que
podemos fazer é sermos solidários e nunca permitir que a memória do Holocausto
se desvaneça.
Mais do que uma testemunha do Horror, é também uma testemunha
do quão difícil é voltar à “normalidade”: interessar-se por pequenas coisas,
voltar a confiar, voltar a amar a vida, acreditar no recomeço e, sobretudo,
voltar a confiar na espécie humana. Depois de tudo o que se passou, era de se
esperar que Eva Schloss fosse uma mulher amarga e vingativa. Em vez disso,
aprendeu a “reviver”, se é se tal coisa possa vir a ser possível.
Chocante mas emotivo, eis mais um livro que bem pode
pertencer à categoria “Voz Humana”.
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