segunda-feira, dezembro 12, 2011

Faltam 200 milhões de mulheres neste planeta

 

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“É uma menina!!”, sorri a enfermeira ou o médico. E logo a casa explode de alegria, os avós abraçam-se, os manos sorriem, a vizinha do lado lá puxa do lencinho. E a mãe e o pai, sorrindo, embalam a pequerrucha nos braços.

Linda imagem, não é? Pois. Mas esta linda imagem só existe no mundo ocidental e em algumas restantes nações do mundo inteiro. Os dados são assustadores: desde que a máquina ultrassons foi inventada (um aparelho que nos permite dar uma espreitadela no ventre e ver o sexo da criança), há cerca de 200 milhões de mulheres “desaparecidas” no mapa. Há 200 milhões de homens que não conseguirão arranjar nem sequer uma simples namorada, quanto mais uma parceira para a vida. Há 200 milhões de homens hoje conhecidos pelo nome de “ramos secos” na China, pois a árvore que eles são não irá nunca florescer. Em poucas palavras: há cerca de 100 raparigas para cada 124 rapazes na China e há cerca de 100 raparigas para cada 117 rapazes na Índia.

Vamos por partes:

graças à política do filho único na China, os casais das grandes cidades só podem ter um filho cada. Como as mulheres nunca foram amadas nem desejadas, as famílias tendem a escolher apenas bebés do sexo masculino. E, por mais estranho que pareça, é precisamente nas zonas onde há mais liberdade para se ter mais do que um filho, que a disparidade dos números é mais gritante. É que nas regiões rurais – onde se pode ter dois filhos - os casais aceitam de bom grado uma menina à primeira, mas não hesitarão depois em matar quantas forem necessárias até chegarem ao tão desejado rapaz. E não, não tem nada a ver com a “qualidade de vida”: estatísticas da Índia mostram que quanto mais rica é uma família maior é a discriminação contra o sexo feminino. As famílias abastadas – e também as da classe média – já não estão interessadas em ter uma chusma de filhos, e optam cada vez mais por uma ou duas crianças. Não se trata de garantir o pão na mesa, como muitos ainda pensam – este caso só se aplica às classes muito pobres. Trata-se de preservar o nome e a honra da família, pois só os machos é que podem herdar o nome dos antepassados e herdar as propriedades do pai. Aliás, a política do filho único na China não foi o que criou esta disparidade de sexos: na Índia, e em muitos outros países, os casais podem ter os filhos que quiserem e, mesmo assim, o genocídio de meninas estão tão vivo como na China.

clip_image004 E há aldeias inteiras na Índia onde só existe uma mulher cercada de centenas de homens. O caso do distrito de Haryana é o exemplo perfeito do estado de suicídio coletivo a que esta nação chegou: a jornalista Elisabeth Vargas realizou recentemente um documentário a propósito deste problema, e conseguiu encontrar uma aldeia exatamente nestas condições (foto do lado esquerdo): apenas uma mulher vivia num lugarejo cercado de machos. Querem mais pormenores? O noivo felizardo adquiriu-a através de uma rede de tráfico de mulheres. A “feliz contemplada” é hoje mãe de oito crianças – todas do sexo masculino, é claro.

O que mais irrita e exaspera nesta história é todos admitirem que a falta de mulheres é um gravíssimo problema, mas ninguém está disposto a ceder. Todos querem uma nora mas ninguém quer uma filha. Junte-se a esta estupidez generalizada o preconceito racial (querem uma noiva, mas tem que ser uma noiva da mesma etnia); os maus tratos infantis; a violência doméstica; as mortes durante o parto; as doenças endémicas; e aqui temos um caldo fervilhante de machos solteirões, sequiosos de fêmeas que só podem admirar à distância, tornando-se, desta forma, potenciais bombas-relógio e um perigo para a segurança pública. Aliás, o tráfico de “mulheres-escravas” disparou nos últimos anos, tanto na China como na Índia: são cada vez mais os casos de “tráfico de noivas” nestes dois países.

Para além do continente asiático, as estatísticas recentes – que podem ser analisadas aqui, mostram que a matança das mulheres ocorre em todo o mundo, e não apenas na Ásia: Azerbeijão, Arménia, Argentina, Roménia, Polónia e México são exemplos perfeitos do que estamos a dizer. Mas o assunto é ainda mais catastrófico, se pensarmos que, no mundo inteiro, milhões de mulheres são assassinadas por outras diversas razões, sendo a África Subsaariana e o Afeganistão os dois casos mais graves. No caso deste último país, de 30 em 30 minutos uma mulher morre de parto e cerca de 2500 tentam cometer suicídio, em cada ano (em cada 100 tentativas de suicídio, 76 são bem-sucedidas). E os dados garantem que estes números são muito, muito, muito pequenos…

Nós já sabíamos que o ser humano não é lá muito famoso pela sua inteligência, mas até a estupidez tem limites. O único país que gloriosamente conseguiu inverter estes dados preocupantes foi a Coreia do Sul, que apostou fortemente na igualdade dos dois sexos, no respeito pela mulher e numa segurança social que garantisse reformas para os mais velhos. Num surpreendente e curtíssimo espaço de tempo, o governo desta nação conseguiu mudar as mentalidades vigentes e a primazia do filho varão passou a ser vista como sendo uma coisa “antiquada”, que só interessa aos velhos. O resultado foi espetacular: hoje o nascimento de uma menina é acolhido com a mesma alegria que uma mãe sentiria se lhe tivesse calhado na rifa um rapaz.

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Pelos vistos, não precisamos de nos preocupar lá muito com o crescimento da população mundial. Quantos menos mulheres existirem neste planeta maiores serão os índices de violência que, por sua vez, serão descarregados nos elos mais fracos (velhos, mulheres, crianças…), que por sua vez contribuirão para o declínio da população, que, por sua vez, gerarão uma maior matança de mulheres, que, por sua vez…

Todas estas boas almas lá conseguiram, de alguma forma, encontrar as justificações mais “plausíveis” e mais “sensatas” para desculpar os seus atos: as mulheres não valem nada, as mulheres são um fardo para alimentar, as mulheres custam caro ao bolso dos pais, as mulheres não tomarão conta de nós, quando envelhecermos… É melhor mesmo não dizermos nada e terminarmos este artigo com uma citação de Oscar Wilde:

Quando um homem pratica uma coisa profundamente estúpida é sempre pelo mais nobre motivo.

É Uma Menina!! -trailer do documentário (com legendas)

Documentário Meninas Desaparecidas, da jornalista Elisabeth Vargas (Sem legendas) parte I

 

Imagens retiradas de:  1    e    2

1 comentário:

Mariza disse...

Não sei quem é que me irrita mais: se os estuporzinhos dos machos que matam as meninas ou se as galinhas das fêmeas que colaboram e pactuam com isto... Sabem que mais?: que apodreçam e morram todos! Desde que não venham para cá roubar as nossas filhas até podem todos desaparecer. Castigo de Deus por serem tão idiotas. Até porque não se perde grande coisa...