Daqui a duzentos anos, é bem possível que já não seja considerada uma “calinada” na língua portuguesa dizermos “darão-lhe” em vez de “dar-lhe-ão”. Já não será talvez erro escrever “á”, “ás”, “áquelas” ou “tava” em vez de “estava” ou, então escrevermos “muinto” em vez de “muito” ou dizermos “hadem” em vez de “hão-de”. Talvez já não seja um erro escrevermos as palavras esdrúxulas sem acento, talvez já não seja um disparate dizermos “interviu” em vez de “interveio”. Não sabemos se será assim, nunca o saberemos porque já cá não estaremos para ver.
OK, hoje estranhamos, mas a língua faz-nos lembrar um organismo vivo que vai evoluindo com o tempo (e, sobretudo, através dos pontapés na sintaxe, da acentuação, da ortografia e da “preguicite aguda”). Não nos esqueçamos que do Latim veio o Francês, o Castelhano, o Português, o Romeno, o Italiano, entre outros exemplos de outras línguas já mortas e que deram outros “filhinhos” linguísticos. No entanto, existe uma diferença flagrante entre uma língua que vai evoluindo e sofrendo correcções em cada dois séculos, e uma reforma feita nas quatro paredes de um gabinete por pessoas nada percebem de linguística e que, a martelo e ao pontapé, exigem que a língua mude à força.
Além disso, as suas justificações são totalmente desprovidas de sentido: desde quando é que os portugueses já não conseguem entender um livro escrito no Português do Brasil, e vice-versa?! Desde quando é que as relações comerciais entre os vários países vão melhorar, só porque algumas palavras deixam de ter a letra “C”, como, por exemplo, “facto”, “actual” ou “arquitectura”, entre centenas e centenas de outros exemplos? Desde quando é que os PALOPS vão ficar mais ou menos unidos e solidários só porque as palavras “Primavera” ou “Abril” vão passar a ser escritas com letra minúscula e não maiúscula?! Isto faz sentido, por acaso?!
Por fim, vamos dar aqui um exemplo: a Inglaterra há já muito tempo que não é uma das grandes potências mundiais, e há já muito tempo que foi substituída pelos seus irmãos Norte-Americanos. No entanto continua, impávida e serena, a escrever “Theatre” em vez de “theater”, entre muitos outros exemplos, à boa maneira British e nada USA. Que eu saiba, nunca vimos os Ingleses a tentar agradar aos seus ex-colonizados, mudando a sua escrita, para poderem “andar a reboque” e “acompanharem” os bons ventos dos Estados Unidos da América.
Obviamente que este é um artigo de opinião, e a própria equipa da nossa biblioteca encontra-se dividida neste tópico. Porém, as ordens estão dadas e, como professora, não terei outro remédio senão “albardar o burro à vontade do dono”, e de seguir as ordens que vêem de cima. Até 2014, os patrões dos portugueses decretaram que todos nós teremos que passar a escrever como eles decidiram nas quatros paredes de uma sala de reuniões. Quer queiramos quer não, as coisas são assim.
Por isso, sugiro que pais, alunos, funcionários e professores dêem uma espreitadela à secção Guia Para A Nova Grafia Do Português, que podem encontrar no Expresso.pt (ou poderão clicar aqui: http://aeiou.expresso.pt/expresso-poupa-letras-e-adota-acordo-ortografico=f590263). Está muitíssimo bem conseguida e super acessível a qualquer Português, quer tenha apenas o quarto ano quer tenha uma tese de Doutoramento. E coloquem este “guia” nos “Favoritos”. Vão-se habituando. E para quem já começa a ficar preocupado com a possibilidade de, de um momento para o outro, começar a escrever com erros ortográficos, existe um óptimo (quer dizer “ótimo”, agora é assim que se escreve) programa informático, que automaticamente reformula o nosso computador para aceitar este “Português de gabinete”. Chama-se Flip7 e não é grátis: segundo a Porto Editora, custa cerca de 63 euros (poderão baixá-lo aqui: http://www.portoeditora.pt/produtos/catalogo/ficha/id/172674).
Quem diria que, anos depois, eu iria começar a escrever com erros ortográficos?? A vida tem destas coisas…
Artigo de opinião de Sandra Costa
Imagens retiradas de:
http://aeiou.expresso.pt/expresso-poupa-letras-e-adota-acordo-ortografico=f590263
http://cristianportela.zip.net/images/acordoortograficogf3.jpg
http://heptahedron.pedrosilva.info/wp-content/uploads/photos/orig_publico2.jpg
3 comentários:
Pois eu continuarei a escrever de acordo com o que aprendi e que acho correcto. Ninguém me fará escrever Abril com minúscula. Afinal de contas existe uma lei que diz que a língua portuguesa é património nacional imaterial. No entanto este governo tem a capacidade de atropelar/alterar as leis a seu belo prazer...
Como sou optimista, acho que a roda não roda sempre para o mesmo lado, algum dia há-de retroceder...
O Mozilla Firefox, o meu browser, tem correcção ortográfica. Segundo ele, está mal se eu escrever 'correção'. E eu concordo com ele.
É uma vergonha. Não passamos de lacaios, a servir os caprichos de toda a gente. Esta população já está demasiado descaracterizada e americanizada e ainda temos que perder a única coisa que ainda é nossa (a nossa Língua)?. Se até a nossa língua perdemos então o que é que nos resta? Deixamos de ser portugueses!
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