A maior parte dos portugueses nunca ouviu falar dela. Porém, para o mundo das artes, particularmente o mundo da dança, Pina Bausch é um ícone, uma lenda que, hoje sabemos, vinha sofrendo de um cancro destrutivo, que lhe levou a luz dos palcos e a clarividência dos visionários. Cinco dias antes, os médicos detectaram-lhe este monstro maligno no corpo, cinco dias depois morria na sua terra natal, Wuppertal, Alemanha, com apenas 68 anos.
Extraordinariamente tímida, refugiava-se no silêncio, na música, na leitura e nos amigos (sempre, sempre os mesmos). E refugiava-se nos cigarros. Eram estes que a mantinham calma nas entrevistas, pois não sabia o que fazer com as mãos, nesses momentos de agonia em que mais tinha que se expor.
Quando em 1973 iniciou a sua carreira como coreógrafa, o mundo não estava preparado para ela. Bailarinos que gritavam, que choravam, que riam no palco, gestos que se repetiam até à exaustão, tudo isto deixou mais da metade da Alemanha em choque, enquanto a restante parte a aplaudia entusiasticamente. Pouco a pouco, impôs o seu estilo, fez escola, granjeou respeito e admiração.
Até ao fim, confiou sempre no seu instinto. Se no início da sua carreira apostou na tristeza, na depressão, na fúria e na redenção, tornou-se com o tempo mais “sossegada”, mais serena, mais “tradicionalista”. Mas o génio, esse, foi sempre o mesmo.
Hoje, os palcos de todo o mundo ficaram mais vazios…
Vídeo: princípio do filme “Fala com Ela”, de Almodovar. Coreografia de Pina Bausch
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